- Gênero: Comédia
- Direção: Peter Sollett
- Roteiro: D.B. Weiss
- Elenco: Jaeden Martell, Adrian Greensmith, Isis Hainsworth, Noah Urrea, Brett Gelman, Analesa Fisher, Michelle Mao
- Duração: 97 minutos
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Filmes sobre perdedores em idade escolar nem sempre conseguem transmitir o que deveria ser o real aprendizado sobre esse tema: o que acontecerá, no futuro próximo ou no distante, com esse grupo considerado “degenerado” pelo seu círculo social? Lembrando que trata-se do mais cruel grupo de pessoas que qualquer ser humano poderia encontrar em vida (ou até no pós-vida), o adolescente, que fará de tudo para que nossa se torne alguns degraus pior do que a idade propriamente dita já o faz. Metal Lords é, além de uma comédia agridoce das mais eficazes e sensíveis recentes, um portal para um gênero musical que já teve em períodos mais populares, e uma forma de reflexo do que nossa projeção também por refletir em nós.
Peter Sollett já mostrou que entende tudo de adolescência (Raising Victor Vargas e Nick & Norah) e bem pouco sobre as fases seguintes da vida (Amor por Direito), e aqui volta ao seu universo de origem, do qual não deveria mais sair. Ele percebe tantas nuances em seus personagens, é tão carinhoso com tipos tão espinhosos, e lê com profunda honestidade o escrito de D. B. Weiss (multiplamente premiado por Game of Thrones), que tenta refletir sobre as causas e efeitos de uma geração que continua sendo incompreendida. A novidade aqui é perceber que eles mesmos se assumem nessa condição errática, tentam acertar, não conseguem, e voltam a errar; é parte do processo do autoconhecimento.
Kevin e Hunter são amigos de infância porque sempre foram perseguidos e diminuídos pelos demais; assim, uma amizade muito improvável nasceu, sem que se importasse com as óbvias diferenças que nunca os uniu. O filme observa entre eles aspectos de auto preservação e proteção mútua que raramente é compreendida entre quem os cerca, porque é muito óbvio como a personalidade de Hunter suga qualquer traço de Kevin, e como existe uma codependência entre eles nada saudável. Que eles sejam os protagonistas do filme e que o roteiro reitere essa situação com frequência considerável, e que jamais é significativo de falta de qualidade, é um feito bem interessante.
Quando eles se deparam com uma nêmesis na forma de Emily, que exerce uma estranha força de atração e interesse em ambos mas em caráter dúbio, essa união é abalada, o filme ganha uma força extra. Emily parece sofrer de muitos fundos psicológicos intangíveis, é uma adolescente medicada, e está no mesmo colégio que eles também vivendo nas sombras – ninguém os percebe, e nada mais normal que isso os una. Ela ao mesmo tempo revela a eles como suas diferenças são irreconciliáveis, e também mostra como sua conexão não é evitável. Faz sentido que suas histórias sejam traçadas de maneira paralela, e conseguimos observar as histórias futuras que os integrantes da Skullfuckers (será?) contarão sobre seu encontro.
O trio de protagonistas é inacreditável, de tanta química que exala entre eles, a um ponto de não sabermos se eles funcionam mais quando estão juntos ou quando estão em colisão. Jaeden Martell (de Entre Facas e Segredos) continua lapidando seu talento de maneira muito aprofundada, aqui mostrando traços de timidez nada óbvios ou histéricos, como é de costume. Sua personalidade apimenta a do estreante Adrian Greensmith, esse sim um diamante bruto que clama ser percebido daqui pra frente. A chegada de Isis Hainsworth (de Emma.) à mistura conjura uma combinação tão afiada que torna o talento de cada um co-dependente dos outros, para onde quer que se olhe. É um daqueles casos onde aqueles prêmios da MTV de equipe em cena deveriam ser outorgados sem qualquer chance de dúvida.
Para fechar, apenas o ressentimento da escolha por um enfoque tão fechado nesse trio por parte do roteiro, a ponto de parecer que as ausências de situações parentais parecem cortes secos. Ainda que Hunter tenha um pai bastante presente e que Kevin possua uma mãe em cena (quase sem vida), o todo soa muito estranho, quase sem a naturalidade que o filme tenta imprimir. E o fato do pai de Hunter ser tão importante ainda deixa o todo menos vivo. Tirando isso, Metal Lords é uma produção até requintada para os padrões teen estadunidenses, que coloca textura – e participações especiais maravilhosas, como a de Rob Halford – em uma época já tão retratada, mas nunca totalmente esmiuçada.
Um grande momento
Vários, mas… “você é o meu comprimido da felicidade”