Crítica | Streaming e VoD

Furioza

Parte do jogo

(Furioza, POL, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Cyprian T. Olencki
  • Roteiro: Tomasz Dembicki, Tomasz Klimala, Cyprian T. Olencki
  • Elenco: Mateusz Banasiuk, Weronika Ksiazkiewicz, Mateusz Damiecki, Wojciech Zielinski, Lukasz Simlat, Szymon Bobrowski, Janusz Chabior, Sebastian Stankiewicz, Konrad Eleryk, Paulina Galazka
  • Duração: 139 minutos

Furioza não aparenta que irá render tanto. Já vimos todos os filmes que estão inseridos nesse (são muitos) inúmeras vezes. Hooligans: check. Pessoas que cometem pequenos crimes para esconder grandes crimes: check. Corrupção policial: check. Amor entre irmãos separados por uma morte violenta: check. Romance proibido entre quem está do lado e quem está contra a lei: check. E muito mais… porém, de alguma maneira meio torta – ou muito talentosa – esse balaio de gatos faz sentido e se une de maneira muito eficiente. Não à toa, é o hit da semana na Netflix, e faz todo sentido que assim o seja, porque o filme é daquelas produções que agradam da vovó aos netinhos, cada um por uma causa diferente.

Mais uma produção polonesa do canal de streaming, essa fica acima da média do que costumamos ver, e definitivamente não é por apresentar a história ou os plots mais originais da temporada, mas por utilizá-los sem medo de parecer repetitivo. Além do talento de conseguir dosar a longa duração em momentos que não apenas costuram todos os seus segmentos, como apresenta seus personagens para longe dos estereótipos ambulantes que eles de fato o são. É uma colcha de retalhos muito bem acabada, cerzida com linha potente e que produz um entretenimento que ainda ousa jogar umas frases muito bem ditas aqui e acolá, como a repetição constante do “uma vez hooligan, sempre hooligan“, que vai mudando de conotação a cada nova proferida.

O filme é o segundo longa de Cyprian T. Olencki, que assina o roteiro junto a Tomasz Klimala, equilibrando doses de tensão crescente e suspense a um jogo de gato e rato que não tenta enganar ninguém. É uma daquelas produções que tratam sobre algum braço mafioso com excesso de personagens, excesso de nomes e que o espectador menos atento ficará perdido em algum ponto, ao tentar ligar rostos e identidades. O que Olencki assegura é que, ainda que isso ocorra, sua motivação imagética será encontrar cada vez mais carregamento de adrenalina na direção do público, seja no ato dos eventos ou na expectativa dos mesmos.

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É um trabalho de profunda coesão, com montagem eficiente, fotografia condizente ao seu universo e sabendo graduar suas cores e a força de suas luzes, coisa que temos visto que não é todo filme que propõe. Furioza não tem gordura, seu universo é amplificado e compreendemos o passado de seus personagens, assim como os que os levou a estar ali, e a moral de cada um também é descrita com clareza, além da coerência que cada um apresenta. O expediente do roteiro não é fazer com que criemos empatia por pessoas de caráter duvidoso – inclusive dentro da lei – mas que seu entorno seja sustentado com qualidade narrativa.

O elenco, se não possui grandes destaques individuais, é de muita entrega e compreensão daquele universo complexo. Se a protagonista Weronika Ksiazkiewicz não sustenta todas as notas de sua heroína, os embates entre Mateusz Banasiuk e Mateusz Damiecki são sempre críveis e intensos, desde o primeiro encontro até o embate final, passando pela desconfiança do meio e uma eventual trégua. Lukasz Simlat consegue ser suficientemente escroto, como o personagem pede, e o filme se ressente de mais espaço para Sebastian Stankiewicz; seu Bula sempre está no ponto em suas inserções. É, como dito, um grupo muito eficiente no que entrega, coletivamente.

Como parte considerável de suas produções, a Netflix não está revolucionando a forma de realizar cinema com Furioza, mas o filme funciona praticamente inteiro porque, além disso tudo, ainda provoca em seus personagens reflexões que conseguimos captar, com ambiguidade e duplo sentido até. São dúvidas muito bem introduzidas pelo roteiro, que a direção e o elenco conseguem desenvolver de maneira acertada e convincente. É um retrato também diferente do que Bauer declara do início ao fim – cada pessoa é mais complexa do que aparenta, tenha ela queda para o bem ou para o mal. Poderia ser apenas um material de passagem do streaming, mas esse é daqueles cujo sucesso dá até um certo prazer pela qualidade do conjunto.

Um grande momento
“Há muito tempo eu não me sinto tão vivo”

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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