- Gênero: Drama
- Direção: Akim Omotoso
- Elenco: Dayo Okeniyi, Yetide Badaki, Uche Agada, Ral Agada
- Duração: 113 minutos
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Como bom brasileiro, torcedor, sou da opinião de que poucos acontecimentos envolvem e emocionam tanto quanto uma partida de futebol. Para um público educado desde a mais tenra infância a acompanhar jogos de futebol, tenho a impressão de que outros esportes, principalmente os mais populares nos Estados Unidos, como beisebol e futebol americano, nem sempre tocam nos mesmos pontos. Não empolga tanto. Claro que o fator cultural é fundamental aqui, mas acredito que ele não se manifesta apenas na relação que o torcedor desenvolve com seu time, seja ele do esporte ou do país que for.Tenho pra mim que quem é esportivamente alfabetizado pelo futebol tem certa resistência a esportes excessivamente burocráticos, travados. É que a fluidez do futebol faz com que tudo possa acontecer a qualquer minuto, algo que não sei se é verdade para esportes mais ‘metrificados’. Mas posso estar errado. Independentemente, há, para mim, um único esporte que pode se comparar, em níveis de emoção, ao futebol: o veloz e alucinante basquete.
Mas, enfim, indo além dessa comparação, existe uma coisa que une todos os esportes (ou a maioria deles), que é o fato de representarem, como a música, uma das poucas formas de ascensão econômica pra muita gente, por mais difícil que isso seja. Não me lembro quem foi que disse que, no Brasil da primeira metade do século XX, o futebol e o samba eram as únicas formas de um jovem periférico sair da pobreza. Não sei se isso se alterou tanto, e a realidade apresentada por Rise, dirigido pelo cineasta nigeriano Akin Omotoso e estreia da Disney+, dá uma reforçada nesse papel do esporte.
O filme conta a história real dos irmãos Adetokunbo, nascidos na Grécia filhos de pais nigerianos, migrantes ilegais na Europa. Lutando contra o racismo, o desemprego e as dificuldades impostas pelo estado grego aos imigrantes africanos, os irmãos cresceram para se tornar grandes jogadores da NBA, a mais importante e disputada liga de basquete do mundo, com um deles, Giannis Adetokunbo, chegando a ganhar o título de jogador mais valioso do campeonato por dois anos consecutivos, em 2019 e 2020. Mas o filme decepciona.
Além da história genuinamente cativante dos Adetokunbo, a produção da Disney tem pouco a apresentar. Está recheada de atuações pouco maduras e sua estrutura narrativa também é atravancada, como se o filme não desse espaço ou respiro para que os acontecimentos se desenrolem de maneira orgânica. Tudo tem um aspecto inacabado, como se o corte que foi lançado na verdade ainda precisasse de algumas etapas de polimento. Meio drama esportivo de Sessão da Tarde, um gênero que eu julgava ter ficado para trás, em algum lugar dos anos 2000, Rise também repete vários dos clichês dos dramas de basquete.
Aquela falta de polimento é ainda mais gritante no que diz respeito à fotografia e montagem: tem alguns enquadramentos e cortes simplesmente esquisitos, que quebram convenções básicas do cinema comercial. Inesperado para uma produção da Disney em 2022, momento em que a empresa representa um verdadeiro monopólio de mídia, com lucros estratosféricos. Outra surpresa, dessa vez positiva, é a presença de Fela Kuti na trilha sonora, que, diga-se, é um dos elementos que parecem ter sido mais bem trabalhados no filme. Pode valer a pena pra quem é fã de basquete e quer conhecer a história de algumas das maiores estrelas do esporte hoje.
Um grande momento
A cena com Charles e Veronika caminhando na estrada com o solzão atrás. É bonita.