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Código: Imperador

As pessoas simples

(Código Emperador, ESP, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Jorge Coira
  • Roteiro: Jorge Guerricaechevarría
  • Elenco: Luis Tosar, Alexandra Masangkay, Georgina Amorós, Denis Gómez, Miguel Rellán, Laura Domínguez, María Botto, Fran Lareu, Arón Piper, Mirela Balic.
  • Duração: 106 minutos

Tem um senso de importância por trás de Código: Imperador que o espectador não consegue entender muito bem porquê. E não faz muito sentido mesmo, já que o filme nada mais é do que um título de espionagem moderna, com alguma inquietação dramática, muito talento por parte dos envolvidos, mas que não faz muito mais que isso. A produção, no entanto, tenta vender uma densidade que não tem muita razão de ser – estamos diante de uma produção apenas correta, e não há nenhum mal nisso. Sua estrutura mais séria do que o habitual, sua atmosfera que remete a algo um pouco menos frugal, não reveste o filme de uma qualidade intrínseca que nem precisa ser aplicada. Podemos apenas curtir essa ideia ligeira de observar um grupo de pessoas lidando com meandros do poder que se revelam cada vez mais podres. 

Jorge Coira assina a direção, e sua larga experiência é ocupada por documentários e seriados de tv, em grande quantidade. Tinha trabalhado também como montador de dois outros títulos protagonizados por Luis Tosar (Goya por Cela 211), que encabeça o elenco aqui também. Não falta ritmo ou certo interesse na trama do filme, mas tudo está de maneira confortável em cena, e as sacadas do roteiro são previsíveis desde a primeira cena. O que Coira contribui então é com a correção e um certo controle dos eventos; nada passa ao largo do filme, pro bem e pro mal. Os eventos não são esquecidos e os tipos em cena emprestam humanidade a uma trama onde nos importamos muito mais com o trivial que com o espetacular. 

Há um romance que se desenrola a partir da metade da produção, e ao contrário de thrillers tradicionais, é nesse desenvolvimento que nos conectamos. Parte do jogo entre esses dois protagonistas que Código: Imperador faz algum sentido dentro do ponto de vista do cinema porque também essas pessoas se conectam por ele. A partir dos encontros que acontecem na sala escura, esse romance irá florescer, crescer e até se reconfigurar, posteriormente. Mesmo essas questão mais interessante não é abstraída de clichê não; do início ao fim, sabemos exatamente para onde aquela história de amor estará caminhando, e observar que nada faz muita diferença dentro do que imaginamos até concede algum poder ao filme. Nesse sentimento de conforto, de encontrar suas respostas exatamente onde achamos que elas estariam. 

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Uma das fontes de descontrole do roteiro de Jorge Guerricaechevarria está no excesso de acontecimentos e deveres. Código: Imperador parece nunca se contentar com o que tem, e abre diversos leques para continuar desenvolvendo novas pontes de conexão. Isso não apenas afasta o espectador, deixa ligeiramente confuso o material, principalmente por não entender onde aquele grupo de eventos se encaixarão e porque eles precisavam existir. É triste perceber que muitas das coisas em cena eram lugares comuns que nem precisavam ter sido escritos, por que claramente são apêndices narrativos. É um número sem fim de personagens, que existem pra engordar o todo. É o caso do plot do jogador de futebol, que mais adiante ainda aparece em uma festa já recuperado de suas lesões, mesmo que elas tenham acontecido há poucos dias. 

Esse comentário abre uma discussão a respeito da suspensão da descrença do filme, que parece ser elástica ou infinita. Parece nunca ter fim nossa necessidade de precisar não notar os lugares muito complexos mostrados, no sentido de absurdos ou erráticos. Muitas facilitações de roteiro estão posicionadas para que a narrativa possa andar, ou cenas desnecessárias a respeito de subtramas que só acrescentam cortina de fumaça à narrativa. Como tudo gira em torno desse personagem central e toda movimentação nos acaba levando sempre a ele, esse incômodo é pontual, porém isso nunca deixa de ser perceptível. Um novo tratamento no roteiro, ou uma peneira mais forte na edição, poderia deixar o filme com algo de mais urgente e intenso, menos espraiado. 

É nas mãos de quatro atores que se encontram as principais qualidades de Código: Imperador, e os motivos pelo qual o discurso final de um deles é tão emblemático. Miguel Réllan é o responsável por ele, na pele de um militar sem escrúpulos com tentáculos políticos; conhecemos esse homem, que acha que os fins justificam os meios. Georgina Amorós têm belos momentos em cena também, como uma jovem com erros do passado que a obrigam a prestar favores ao protagonista vivido por Tosar. Ele e sua partner Alexandra Masangkay protagonizam o que de fato representa interesse na produção, um casal improvável que pode vir a ter um futuro, se aceitarem que são as pessoas simples que o filme tenta calar. 

Um grande momento
O encontro final entre Juan e Galán

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Alexandre de Figueiredo
Alexandre de Figueiredo
28/11/2022 17:57

A narrativa enrola, enrola e não chega a lugar nenhum.

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