Crítica | Streaming e VoD

Dupla Jornada

Desperdício

(Day Shift, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: J.J. Perry
  • Roteiro: Shay Hatten, Tyler Tice
  • Elenco: Jamie Foxx, Dave Franco, Karla Souza, Meagan Good, Snoop Dogg, Natasha Liu Bordizzo, Zion Broadnax, Peter Stormare, Eric Lange, Oliver Masucci, Steve Howey, Scott Adkins
  • Duração: 113 minutos

Chad Stahelski, um dublê que virou um excelente diretor (vide a franquia John Wick), gostou tanto dessa troca de cadeira na produção que começou a incentivar outros como ele a fazer o caminho parecido. Nisso surge J. J. Perry, diretor dessa estreia de hoje da Netflix, Dupla Jornada, que exige um esforço das cenas de luta, mas não chega a ser uma produção de ação. É um esforço conjunto de muitos profissionais para que o título seja como é, entre eles seu protagonista, Jamie Foxx, que deveria parecer confortável com o material apresentado. Afinal, o híbrido de ação com comédia é a praia do vencedor do Oscar por Ray. Ainda assim, não por culpa dele ou se de seus parceiros de cena, mas o filme não consegue atingir seus objetivos, apesar da clara força de vontade coletiva. 

A verdade é que deu errado na junção entre gêneros, que ainda flerta com o horror. Afinal, trata-se da história sobre um caçador de vampiros que se disfarça como limpador de piscinas. Diante do quadro apresentado, o filme deveria apostar em muitas camadas com recheios diferentes, mas há uma preocupação maior em lugares que outros, gerando um resultado insatisfatório. A ação se resume a coreografias mais exageradas do que se esperava, com todo chute dado pelos vilões transformado em um aríete para fazer um corpo rodopiar. Esteticamente não é bonito, além de ser usado à exaustão, praticamente em toda sequência de embate. O terror também não é bem cuidado, ainda que seja respeitada a iconografia a respeito da imagem no espelho; os elementos são enfiados a fórceps em cena, e a figura do sidekick soa como um pastiche de coisas vistas anteriormente, como em Um Lobisomem Americano em Londres

Dupla Jornada
Parrish Lewis/Netflix

Resta a comédia, e esse dos três gêneros é o mais complexo, simplesmente porque a graça não chega na maioria das vezes. Até existe ritmo na forma como elas são contadas, os atores se dedicam ao máximo ao riso, especialmente os protagonistas Foxx e Dave Franco. O que não existe é graça mesmo, porque a grande maioria do que é dito ou feito em cena, o espectador não conseguirá esboçar um mínimo sorriso. O problema disso é do roteiro de Tyler Tice e Shay Hatten, cujos nomes remetem diretamente a pseudônimos – porém Hatten escreveu Army of the Dead e Parabellum. Ou seja, não houve inspiração para escrever boas sacadas, e o filme segue de maneira inconsistente, sem apresentar um grupo de situações que venda uma ideia positiva. 

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O que então funciona em Dupla Jornada? Além das interações entre Foxx e Franco, que conseguem estabelecer química mútua – não graça – a tentativa de criar uma realidade mundana para um caçador narrativo, isso sim é uma ideia bacana. Bud é um cara que ama a ex-esposa e a filha, e luta para conseguir o dinheiro que precisa para os cuidados com a pequenina. Esse esforço, que faz com que ele venda objetos de valor sentimental logo no início do filme, é uma sacada que dá humanidade a um projeto enraizado no artifício talvez até demais. A adesão da verdade desses momentos acabam soando muito mais críveis e interessantes do que o que é vendido como atrativo, ou seja, o cinema de gênero em sua casa perde terreno para o que dentro dele é artificial – o afeto. 

Dupla Jornada
Parrish Lewis/Netflix

Apesar do que está descrito acima, os elementos narrativos da produção não chegam a convencer. Isso acontece porque os conflitos só são apresentados e expostos, nunca desenvolvidos; fica tudo nas costas do espectador comprar a validade daquelas ações. É o talento individual de cada elemento em cena (os atores, no geral) que reestruturam uma colcha de retalhos costurada de maneira muito rápida, ficando à mostra sua pressa. Tudo é estabelecido de maneira rápida e automática pelo filme, com o roteiro posicionando aquilo para que a trama avance, e só por isso as coisas são como são. Diante de tantas questões, que Dupla Jornada ainda consiga entreter sem que tenhamos vontade de desistir ou se arrepender é uma surpresa. Mas é triste perceber que o resultado final está muito aquém do que a ideia poderia ter desenvolvido. 

Um grande momento
O encontro com a anciã

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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