- Gênero: Policial, Suspense
- Direção: Thomas M. Wright
- Roteiro: Thomas M. Wright
- Elenco: Joel Edgerton, Sean Harris, Jada Alberts, Cormac Wright, Steve Mouzakis, Matthew Sunderland, Alan Dukes, Fletcher Humphrys
- Duração: 115 minutos
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O cinema policial australiano há algum tempo não tinha uma nova amostragem do que já demonstrou ser capaz de fazer no passado recente, como em Reino Animal. Incluído na competição da Un Certain Regard do último Festival de Cannes, O Desconhecido chegou na Netflix com menos alarde do que merecia, tendo em vista seu pedigree. Ao conferir o título, compreendemos sua atmosfera soturna conduzida em fogo brando, e entendemos a falta de interesse aparente do público. Isso não significa nada além disso, pois o filme é uma pedida atraente para quem curte thrillers investigativos, mas com uma pegada adensada pela construção de seu universo e de seus dois protagonistas, homens com muito a esconder um do outro, e também do espectador.
Próximo a completar 40 anos, Thomas M. Wright é um ator transformado em diretor há quatro anos, com O Desconhecido como seu segundo trabalho atrás das câmeras, com um roteiro que não chega a ser algo fora do comum. O que chama atenção aqui é o ritmo que ele impõe sobre a ação e a maneira rude com que a montagem acontece, sem pedir muita licença. Existe uma percepção de que o jogo em cena é muito mais sofisticado do que verdadeiramente é, mas não tem como negar que Wright não saiba vender seu filme como se fosse mesmo algo além do comum. Não estamos diante de um trabalho ordinário, longe disso inclusive; estamos diante de um produto acima da média, com elementos de excelência.
O trabalho de brilho em O Desconhecido é o de Simon Njoo. Montador de Babadook, Njoo brinca com os arranhões que provoca na imagem, com o trabalho conjunto que realiza com a banda sonora, conseguimos perceber sendo uma edição muito divertida de realizar. O filme vai escondendo sua potência até um campo limite, e a responsabilidade da montagem aqui é dar coesão a tantas coisas e tempos, costuras tão diferenciadas sobre um material que, sob outra perspectiva, teria um peso menor. Com o que o montador concebe aqui, a arrumação de tese no fim das contas, a maneira como o filme revisita seu princípio para contextualizar o entendimento, é bem desenvolvido e colocado de maneira absolutamente inteligível para o público.
Na frente das câmeras, mais uma vez Joel Edgerton e Sean Harris igualmente elevam o todo, chegando a um nível de excelência, comprometimento e inteligência cênica que não é todo dia que vemos. O primeiro esteve brilhantes tantas vezes, de A Hora Mais Escura a Loving, passando pelo fabuloso desempenho ano passado na minissérie The Underground Railroad, que não soa estranho afirmar isso, mas depois de desempenhar tantos homens da lei, vê-lo aqui, renovado e intenso, chama a atenção. Já Harris conseguiu impressionar em ‘71 e em Macbeth: Ambição e Guerra, e eu creio que aqui em O Desconhecido podemos estar de frente para sua melhor interpretação da carreira, misturando fragilidade, desconfiança e ameaça, em um momento muito feliz.
É uma produção meticulosa para contar essa história baseada em eventos reais, que se iniciaram há mais de duas décadas atrás. Maneira inteligente de conduzir uma história assim, O Desconhecido não pretende agradar a todos, entendo-se como uma produção que pode afastar tantos por conta dessa contemplação diante do horror do sequestro de uma criança. Quando o filme começa a unir as duas imagens dos dois protagonistas, tornando os quadros apavorantes, fica claro como esse envolvimento já foi longe demais, e como Wright tão mão boa para o cinema de gênero. Com alguns bons sustos em meio a uma trama policial de sequestro, o filme deixa tanto suas qualidades quanto suas dificuldades expostas, e é isso que se espera de um grande filme: a confiança de que tais elementos se apresentem com honestidade.
Um grande momento: Dois rostos em um