Crítica | Streaming e VoD

Ligação Explosiva

Falha na linha

(발신제한, KOR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Changju Kim
  • Roteiro: Changju Kim
  • Elenco: Joo Woo-jin, Lee Jae-in, Ji Chang-wook, Kim Ji-ho, Ryu Seung-soo, Jeon Seok-ho, Lee Seol
  • Duração: 90 minutos

Há sete anos estreava El Desconocido, produção espanhola de imenso sucesso protagonizada por Luis Tosar, vencedor de muitos prêmios no país. Seu êxito fez pelo menos a Coréia do Sul imaginar um remake, e isso que está em cena nesse Ligação Explosiva. Quem já viu o original como eu, sabe o que esperar do roteiro e faz ideia dos lugares por onde o filme irá. A todo o resto, essa é uma produção que vai chamar atenção por conta de sua tensão ininterrupta que carrega o espectador para dentro da ação. Com isso, o espectador padrão, aquele que não é exigente nos recortes e nas decisões de cinema, vai ficar muito feliz com essa estreia nos cinemas, um filme cuja adrenalina não para um só minuto. 

Quando analisamos sob a ótica do blockbuster puro e simples, Ligação Explosiva chama atenção pelos nervos de aço que a plateia tem de ter para não ter uma crise ansiosa durante a projeção. É um filme que segue sua cartilha da melhor maneira possível, em uma continuidade de plots até interessantes, que revelam progressivamente sua trama e o passado que tem conexão com o presente. Não faltam clichês, mas uma produção como essa nem tenta não ter clichês; a proposta do todo é envolver o público em uma catarse coletiva amplamente justificada. Com o espectador na mão, aí sim é chegado o momento de fazer o que quiser com ela, porque a conquista já se concretizou e agora você estará pronto para obedecer a cada novo estímulo. 

Ligação Explosiva (2022)
Diamond Films

Ao constatar que essa é a estreia na direção de um montador de formação, as respostas vem mais fácil. Changju Kim fez excelentes trabalhos em O Túnel e Um Dia Difícil na área, e esse acabou de gerar um remake da Netflix para a França. Com essa confiança que ganhou em duas décadas de trabalho, Kim consegue demonstrar trabalho aqui. Nenhum valor é perdido em Ligação Explosiva para a direção, que captura um sem número de possibilidades a cada plano para notabilizar seu trabalho. As cenas de perseguição são excelentes, e o momento do cerco na praia revela um diretor preocupado não apenas em construir uma ideia imagética, mas criar um caleidoscópio de imagens que projetem o maior número de planos possível, criando uma tensão inegável só por isso. 

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Infelizmente, Ligação Explosiva sofre por um festival de incongruências em seu roteiro a partir da sua metade, quando o carro em desabalada carreira consegue ser detido em uma praia. Não são apenas coisas absurdas a ocorrer, mas coisas incondizentes com tudo que o filme apregoava até ali, incluindo a ausência de coerência em torno dos personagens. Coisas que não são vistas mesmo estando na cara dos atores, o comportamento dos profissionais de segurança pública, e a própria protagonista feminina, que vai de um polo absurdo a outro em questão de minutos. É um momento que não faz sentido nenhum para o filme que ainda define sua reta final de maneira vergonhosa, porque um erro segue o outro em efeito dominó. A falta de lógica coletiva decepa as qualidades narrativas do filme. 

Ligação Explosiva (2022)
Diamond Films

Não falta diversão escapista, no entanto, a esse produto que, caso fosse verdadeiramente descerebrado, faria muito melhor a produção. Mas Ligação Explosiva precisa explicar suas passagens, e com isso o filme vai se rendendo a especificidades muito atrapalhadas. Quando o filme adquire um esperado tom político, tudo parece seguir para um caminho óbvio e igualmente aborrecido, que tenta tirar o entretenimento da frente para dar vazão a uma seriedade que o filme não tem interesse em bancar. Mais justo e válido então era dar vazão a um sentido anárquico, que pudesse não responder a questões tidas como importantes, e simplesmente colocar o pé no acelerador para longe do bom mocismo. 

Um grande momento

Pai e filha no carro

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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