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Terrifier 2

Ah, como era bom o meu slasher...

(Terrifier 2, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Damien Leone
  • Roteiro: Damien Leone
  • Elenco: David Howard Thornton, Lauren LaVera, Elliott Fullam, Jenna Kanell, Kaylie Hyman, Catherine Corcoran, Samantha Scaffidi, Felissa Rose, Katie Maguire
  • Duração: 135 minutos

Assistir aos dois filmes em sequência valoriza o primeiro Terrifier e tira a potência dessa estreia dos cinemas dessa semana, Terrifier 2. Tudo que estava no primeiro filme, e o transformava em uma experiência tão ‘sui generis’ dentro do cinema hoje, foi amortizado para que o novo longa se aproxime de uma ideia do bom gosto – de acordo com alguma análise interna qualquer e amalucada. Talvez pensando em uma quebra de parâmetros dentro da própria obra, para que seu exagero fosse valorizado, um tratamento estético foi reconfigurado à sua continuação. O resultado é a percepção de que o cinema trash que o filme mirava em seu pomo inicial foi embelezado aqui, perdendo a potência e o impacto de seis anos atrás. 

Damien Leone, não podemos negar, concebeu um ícone. Art é o último grande personagem do horror a surgir, talvez o maior da década passada; isso não é pouco. Em um único título, ele já conseguiu se aproximar de mitos do gênero. Nesse sentido, Terrifier 2 existe também para amarrar a urgência dessa criação, mérito de Leone sem dúvida, mas jamais podemos deixar de agradecer a David Howard Thornton por encorpar essa entidade de maneira tão distinta. O sucesso desses dois filmes se deve 100% do que é Art, em corpo e criação. É uma equipe que se uniu na tentativa de nos legar um novo Freddy Krueger, um novo Michael Myers, um novo Ghostface, e conseguiu. O palhaço-mímico sádico já está em um panteão restrito, mas muito significativo do cinema de gênero. 

Terrifier
Divulgação

O primeiro título estava imbuído de uma essência tradicional do trash, e não qualquer um, mas um oriundo efetivamente dos anos 80, com textura e atmosfera muito específicas. Esse Terrifier 2 parece sofrer de uma espécie de dupla jornada – o filme tanto pretende retornar a essa ideia de ambientação que nos remete a algo perdido no tempo, mas também quer se comunicar com um público que não era o pretendido no longa anterior. Para isso, o roteiro nos apresenta a uma família protagonista, e quando eu digo apresenta, entenda-se essa apresentação de maneira literal: mãe, filha e filho são dissecados, e passamos tempo demais na convivência desse grupo de pessoas anteriormente à chegada da ameaça. 

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Isso é um problema, em definitivo. Porque Art é um personagem bom demais para dividir espaço de tela com qualquer que seja a outra abordagem, e tentar modificar essa ideia não acrescenta ao filme o que mais queremos ver em cena: Art matando. No fim das contas, os mocinhos de qualquer história (da novela das 8 até Shakespeare) não são tão interessantes quanto os vilões, e ao menos os anti-herois. Sienna e companhia, além de não estarem à altura de seu vilão, ainda não se associam a Sidney ou Nancy, ‘final girls’ clássicas. O que temos em Terrifier 2 então é um filme que tenta agradar a um público maior do que o anterior, quando seu charme era justamente ser segmentado o suficiente para afastar parte desse mesmo público. 

Terrifier 2
Divulgação

Tudo se resume ao quanto Art pode ser sanguinário, e ao contrário do que dizem, não, o teor de ‘gore’ não diminuiu aqui. A essa concessão Leone não cedeu, e a ideia de triturar suas vítimas continua colocando o personagem em níveis muito acima de psicopatas doentios anteriores a ele, porque aqui o slasher parece ter encontrado sua casa de volta. Terrifier 2 funciona completamente com quem tinha saudade de um tempo outro, onde o cinema parecia mais interessado em provocar reações primais no espectador (nojo, repulsa, incômodo, etc) do que evitar ferir sensações de desagrado. Esperamos por algumas dessas reações aqui, e elas aparecem com alguma frequência, ainda bem.

O que não impede a sensação de duração além do permitido; sério Leone, precisava mesmo das mais de duas horas? Terrifier 2 se alonga em suas vítimas, e terminamos mesmo assim sem criar qualquer laço com elas, porque nosso laço já está firmado com o verdadeiro protagonista. Nos interessa acompanhar Art, e suas possíveis ligações com a própria sexualidade (porque Art vê uma versão sua feminina e infantil?) acabam se perdendo na própria duração, preocupada em nos fornecer personagens para torcer. Ora Leone, nós torcemos por Art – o cinema não é uma bússola moral onde se define caráter. O espectador adentra Terrifier 2 para contar as vísceras, e não para se importar com as donas delas; ao menos foi nesse estado que Leone nos preparou, no capítulo anterior. Que para a terceira parte (que já está no forno) essa volte a ser a única preocupação, ou que seu roteiro melhore em definitivo.

Um grande momento

Art e Tara

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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