Crítica | Streaming e VoD

Feliz Ano Nosso

Público subestimado

(Happy Nous Year, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Frank Bellocq
  • Roteiro: Frank Bellocq, Jean-Luc Cano
  • Elenco: Kev Adams, Camille Lellouche
  • Duração: 56 minutos

A curiosidade do réveillon é a Netflix estrear uma produção em seu espaço de menos de 1 hora de duração. Feliz Ano Nosso é uma comédia romântica francesa que abre uma folga na programação do streaming para as produções natalinas, tentando popularizar títulos que se passam no feriado da semana posterior. É uma produção que concentra algum risco, por menor que seja, ao propor uma narrativa onde seus protagonistas fiquem presos durante esse tempo dentro de um elevador. Quais as chances de rapidamente a ideia se tornar cansativa e, mesmo em pouco tempo, nos levar ao enfado? Felizmente o que eu torci para acontecer toma corpo e o filme “sai do ambiente de clausura”, para ganhar novos ares. 

Esse é o segundo longa de Frank Bellocq, ambos protagonizados pelo comediante Kev Adams. O cineasta também é o autor do roteiro ao lado de Jean-Luc Cano, e seu texto parece não confiar na presença de um público minimamente inteligente para perceber as soluções estéticas da produção. Essa certeza advém do texto em questão, que explicita cada atitude de seus personagem, cada nova sequência, deixando praticamente nada para a imaginação do espectador. Não é como se houvesse necessidade disso, mas é como se o público de Feliz Ano Nosso não tivesse o direito de pensar sozinho, porque a cada óbvia conclusão que poderíamos prever, o filme absorve nosso pensamento e verbaliza cada lance para o público. 

Feliz Ano Nosso
Netflix

Esses dois estranhos que se conhecem em um elevador que emperra na noite de ano novo não se gostam de cara, mas precisam esperar pela virada do ano para serem libertos de sua “cela”. Mas nesse ínterim, nada para fazer, arrastam momentos marcantes de suas vidas, que os farão analisar mutuamente o lugar onde se encontram agora, emocionalmente falando. Quando tais momentos surgem, o filme liberta seus atores do cenário, e eles saem juntos em meio às lembranças para compreender o hoje a partir do passado. No papel, é uma ideia formidável que pode acessar qualquer desdobramento psicológico de tipos para nos fazer acessar a métodos de terapia particular. Infelizmente, Feliz Ano Nosso narra cada situação, demarcando suas intenções para além do que já estava claro. 

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Além de Adams, Camille Lellouche é o nome do elenco a estar claustrofóbico com sua narrativa e ambos se saem muito bem em tarefas difíceis. Além de não ter outra coisa a contracenar que não com quatro paredes, o filme acaba sendo posteriormente para essa ideia insólita a respeito de um acerto de contas com a própria história. Ambos se saem bem na dupla tarefa de se manter preso fisicamente, mas ainda preso a nós do passado que precisam ser desatados. São duas interpretações distintas em momentos disparatados, mas que demonstram o talento de dois jovens talentos para desafios maiores que os vistos aqui. Além disso, é uma parceria que funciona em concordância de ideias. 

Vencida a resistência inicial à possibilidade de passar 55 minutos assistindo a uma DR no elevador entre dois estranhos, o espectador encontra em Feliz Ano Nosso uma ideia nada original no desenvolvimento, mas que funciona bem durante sua ligeira duração. Tirando a inteligência do público claramente subestimada, o filme poderia ser uma diversão ainda superior se não motivasse sua realização ao medo de não ser compreendido. Caso isso não fosse um problema, teríamos então a ideia de que o ritmo do filme é tão bom que facilmente poderíamos acessar outras dinâmicas do processo caso a duração fosse maior; não aconteceu. O produto do jeito que está garante uma diversão sem compromisso em busca de um público alvo, que também o encontre. 

Um grande momento

A sitcom

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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