Crítica | Streaming e VoD

Mistério em Paris

Maior e melhor

(Murder Mistery 2, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Jeremy Garelick
  • Roteiro: James Vanderbilt
  • Elenco: Adam Sandler, Jennifer Aniston, Mark Strong, Mélanie Laurent, Jodie Turner-Smith, Dany Boon, John Kani, Enrique Arce, Kuhoo Verma, Adeel Akhtar
  • Duração: 80 minutos

O que poderia acontecer em Mistério em Paris, um filme protagonizado por Adam Sandler e Jennifer Aniston e continuação de um dos maiores sucessos da História da Netflix, que não parecesse apenas uma vontade louca de ganhar mais dinheiro e fazer mais sucesso? Ok, o primeiro filme era simpático, até surpreendente, divertido aqui e ali, mas nada muito fora dos padrões. Ninguém se feriu assistindo, o passatempo era eficiente, Sandler e Aniston juntos têm rios de química, mas nada saiu do lugar e o fato do sucesso ter sido tão imenso era o que de mais marcante tinha acontecido ali. Logo, era só repetir tudo de uma ponta a outra, e nem precisava rezar para o novo tilintar das moedas. Aí eles foram lá e fizeram, e as surpresas começam a partir daí. 

Sim, temos enfim uma continuação que… tá, não vai ferir ninguém, mas surpreende e muito que tenha existido uma real vontade fazer maior e melhor que Mistério no Mediterrâneo. Com certeza a maior parte da crítica vai dar de ombros e não ligar muito, mas a verdade é que essa nova aventura do casal Spitz é sim superior em praticamente tudo ao primeiro. Há fogo nos olhos do filme novo, quase conseguimos assistir às reuniões dos envolvidos onde isso é colocado em cima da mesa, “precisamos tratar os fãs do primeiro com a reverência que merecem”. E os feitos são conseguidos, com algumas sobras, sem perder de vista de que estamos falando de um produto feito para tal, sem qualquer vergonha de parecer uma máquina da indústria – de uma nova indústria. 

Mistério em Paris
Scott Yamano/Netflix

Há 15 anos atrás, esse filme estaria em primeiro lugar nas bilheterias americanas, e nem seria por apenas uma semana só. Os tempos mudaram, comédias são cada vez mais raras nos box offices, as pessoas estão cada vez mais reféns de streamings, e a Netflix encontrou uma mina de ouro com Adam Sandler; ele, encontrou uma saída para um posição como astro que começava a mudar. Mas, querem saber?, dos filmes que Sandler tem protagonizado – tirando os que vão para Cannes e os que são dirigidos por certos Safdies, como Joias Brutas – esse novo Mistério em Paris se não é o melhor (e parece ser), definitivamente é o mais bem acabado. Seus valores de produção, não apenas por incluírem uma ilha espetacular e a Cidade Luz no mapa, são de chamar bastante a atenção. 

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E sim, estou falando de montagem, um problema que costuma ser muito incômodo em filmes de Sandler. Quem me acompanha, sabe o valor que dou à edição em comédias, porque o ‘timing’ aqui precisa ser muito mais preciso do que em qualquer outro gênero, onde cabem a distensão temporal. Tom Costain e Brian Robinson fazem um trabalho bastante acima da média, e revelam um potencial para o thriller que já estava presente no anterior. Estamos falando de uma evolução ainda maior aqui nesse sentido, e que coloca Mistério em Paris em lugar verdadeiramente elevado para quaisquer padrões, sejam os da Netflix ou do astro da comédia. Além disso, a fotografia de Bojan Bazelli também mantém a produção em padrão muito diferente do que comumente vemos; há trabalho considerável aqui para notarmos que, de fato, ninguém estava fazendo um filme a toque de caixa. 

Mistério em Paris
Scott Yamano/Netflix

Pensar que existe um tratamento de primeira qualidade em uma produção que não tem qualquer outra função que não o entretenimento, não é imaginar desperdício. Um filme de imenso porte como Mistério em Paris pode ajudar essa mesma indústria a não tratar esse tipo de produto como cidadão inferior, e a isso também entendemos como o consumidor desse mesmo material. Cenas como a do encontro entre os suspeitos no quarto dos Spitz, ou a perseguição na van, ou o clímax na Torre Eiffel não entram como tentativas de mostrar serviço e dinheiro gasto, mas tudo parece ter sido montado com acertadas direção de arte, organização de decupagem e planejamento estético – e sim, nem parece que estamos diante das coisas toscas que Sandler já se meteu em comédia. 

O responsável aqui é Jeremy Garelick, e vamos rezar que uma terceira parte receba de novo esse rapaz no comando do barco, porque os resultados em Mistério em Paris enchem os olhos. E tudo isso contado em tempo recorde, com o máximo de urgência, sem perder a dignidade, leia-se sem correria desenfreada ou ao menos não uma que o filme não justifique direitinho. Soma-se isso ao carisma dos protagonistas, ao fato de que já somos íntimos de Nick e Audrey e (aí sim!) algumas cenas bem divertidas, que colocam a comédia onde deve ser. Voilà, temos sim um produto acima da dignidade sendo entregue por marcas que nem sempre primam por tal; pelo respeito com que somos tratados, agradecemos e pedimos mais. 

Um grande momento
A perseguição na van – tem ação, tem comédia, tem absurdo!

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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