- Gênero: Drama
- Direção: Sitisiri Mongkolsiri
- Roteiro: Kongdej Jaturanrasamee
- Elenco: Chutimon Chuengcharoensukying, Nopachai Chaiyanam, Gunn Svasti, Bhumibhat Thavornsiri
- Duração: 140 minutos
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Para quem é aficcionado (como eu) no universo culinário, não perde qualquer reality show envolvendo chefs e tem uma espécie de adoração por planos onde comidas são tratadas com minúcia radical, esse Fome de Sucesso, uma das grandes surpresas da Netflix esse mês, é uma pedida certeira. A repercussão acachapante do título prova que nada disso está fora de moda, e que aqueles tradicionais ‘filmes de cozinheiro’ podem voltar com força total. Talvez A Festa de Babette tenha dado o pontapé inicial nessa trajetória que uniu público e o prazer inenarrável de assistir boa comida sendo preparada, e que nos melhores casos conseguem extrair da tela aroma e textura; aqui acontece algo nesse sentido, mas essa não é a única contribuição do filme.
A produção tailandesa, na verdade, é uma narrativa que se pretende crítica de nosso tempo, onde classes dominantes estabeleceram um padrão de predadorismo alarmante que o cinema têm frequentemente evidenciado essas práticas rumo à denúncia. O caso mais óbvio talvez seja o de Parasita, mas ano passado com O Menu essas ideias já chegaram no universo gastronômico: tudo o que o dinheiro pode gastar para deglutir não passa de uma escalada incansável rumo ao poder. Você é o que você come? Não exatamente. Você é o que você pode comer, e isso independe do sabor. Aoy, nossa protagonista em Fome de Sucesso, será informada cena a cena de máximas como essa, exatamente devido sua origem, que enxerga a comida como fonte de prazer. Infelizmente, o filme investe nessa vertente da forma mais didática que poderia, assim como todos os elementos a seguir vão caminhando para esse mesmo desenvolvimento.
O diretor Sitisiri Mongkolsiri conduz a narrativa em estado de tensão crescente, que vai tomar conta da vida da protagonista assim que ela tiver contato com o chef Paul, uma dessas figuras odiosas, sem vida particular que só fazem humilhar os outros. Ao nos apresentar o clima do ‘Hunger’, o restaurante palco dos acontecimentos centrais, percebemos que Fome de Sucesso têm menos interesse em acertar O Chef, e mais em O Diabo veste Prada. A ideia não é a de acompanhar o crescimento de um profissional rumo ao que seria seu destino, mas em descortinar uma fogueira das vaidades dentro de uma indústria mais interessada nas lições que se aprendem com tropeços e acertos, do que necessariamente observar uma formação.
A atriz Chutimon Chuengcharoensukying (de Happy Old Year) consegue nos fazer mergulhar em Aoy do início ao fim. Se muitas vezes o roteiro precisa descrever as sensações de que a personagem estaria imersa, isso soa como incapacidade de texto e direção em observar sua atriz, que está absolutamente imersa no que vive. Suas decisões são nuançadas com delicadeza, e mais uma vez Chutimon consegue encapsular uma ideia muito íntima social, aqui uma necessidade quase indecifrável de ascender socialmente, e escalar um lugar nunca antes sequer imaginado. É um trabalho absolutamente colorido e cheio de vigor de uma jovem atriz que continua demonstrando seu manancial irrepreensível.
É esse emaranhado de sentimentos tão humanos proporcionados por tão dotada atriz que seguram Fome de Sucesso assim que percebemos que cada nova etapa do roteiro se torna ainda mais arquetípica que a anterior, jogando cada um de seus personagens em uma grande redoma de títeres. Nada mais do que a reprodução de muitas ideias já vistas antes, associadas a comédias, dramas, aventuras e em diversas cinematografias diferentes. A lição de moral que todos aprendem, os lugares óbvios onde cada fantoche alcança ao fim de sua jornada. Sempre divertido de se acompanhar, é com emoção que chegamos ao final de tudo, mas é do rosto e do corpo de sua estrela principal que vem a motivação ímpar para quem não é vidrado no fascinante mundo do detalhamento dos preparos alimentícios.
Um grande momento
O pote de caviar