- Gênero: Policial
- Direção: Nimród Antal
- Roteiro: Christopher Salmanpour
- Elenco: Liam Neeson, Noma Dumezweni, Jack Champion, Lilly Aspell, Embeth Davidtz, Matthew Modine, Arian Moayed, Emily Kusche
- Duração: 88 minutos
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Sim, você já viu esse filme antes, e não foi só uma vez. E essa afirmação vem carregada de camadas, bem mais do que as óbvias que observamos de cara. Não atente o Liam Neeson com cara de durão no poster e tire que essa é uma repetição que o astro de A Lista de Schindler tem feito nos últimos anos, ou não apenas isso. Mas por trás de A Chamada tem mais que isso: trata-se de mais um remake de El Desconocido, sucesso espanhol de 2015, que já tinha rendido o coreano Ligação Explosiva, no ano passado. Ou seja, estamos falando da terceira versão de uma história que, talvez por saber que o mundo globalizado hoje acessa títulos de qualquer parte (ok, quando eles faziam remake de O Silêncio do Lago, também), apresenta a mesma história aqui… até a página 10.
O cineasta húngaro Nimród Antal andava afastado do cinema, e é chamado de volta para esse que, ao contrário do que o fã do Neeson brucutu imagina, não está exatamente nesse lugar. O que temos aqui é um pai de família que precisa proteger os filhos da ameaça de uma explosão de bomba instalada no carro onde eles mesmos estão, e do qual não podem sair sem que ela seja detonada. Isso impede que vejamos o ator como em seus últimos filmes, na linha Agente das Sombras, sem poder correr e demonstrando claramente o peso do tempo. Aqui, a ação é toda sobre rodas e o ator pode voltar a exercitar suas tintas dramáticas, que não vêm sendo completamente utilizadas ao longo da última década. Há cinco anos que não o vemos protagonizando um título que se sobressaia dentro da mesmice que lhe acometeu, e que parece confortável para ele.
Ainda que esteja bem distante do valor geral dos últimos 10 títulos – abaixo da média – A Chamada é mais um filme agradável, e com o qual não se corre riscos, além de ser um dos inúmeros remakes que ele tem protagonizado. Mas o roteiro de Christopher Salmanpour guarda muitos pontos para quem já acompanhou os títulos anteriores, movendo a história para outros lugares de inflexão, dando novo sentido às ações apresentadas, e abrindo mão de uma discussão mais profunda. É como se o filme desse preferência a um jogo de gato e rato muito bem azeitado pela atmosfera, do que expandir um olhar que os filmes anteriores já o fizeram. Essa questão não foi extirpada do filme, mas amenizada para que o foco principal seja um local até mais reconhecível para Neeson, mas que oxigena a narrativa que está sendo contada para algo mais simples.
Em uma ideia que já é muito trivial, que se aproveite exatamente o que é catártico em seu extremo, é a melhor saída para tanto um produto que já tinha sido apresentado antes, como também a um aglomerado de façanhas automobilísticas que são promovidas aqui. Em tempos de Velozes e Furiosos, pode ser que A Chamada soe deslocado em sua pequenez de alcance, mas não estamos falando de uma família de super-heróis, como são os Toretto, mas de um quarteto simples – “simples” né… são brancos ricos moradores da Alemanha. Em seu lugar de carregar o espectador para dentro dessa narrativa, o pouco que é feito é o suficiente para impressionar um grupo de pessoas que não é exatamente ligada à ação. Então, mesmo modesta, a ação aqui é suficiente para motivar nossa conexão emocional.
Porque estamos diante de um trio central (além de Neeson, os filhos vividos por Lilly Aspell e Jack Champion) que sustenta a dramaticidade de seu roteiro com muita garra. Qualquer das versões de A Chamada depende dessa base, a interação entre pai e filhos é o que nos faz comprar aquele desespero contínuo e a adrenalina que assim é adicionada a uma relação fraturada. É preciso acreditar na sua ruptura, no que os afastou e caracteriza hoje, para que sua nova configuração seja estrategicamente restabelecida, até que possamos identificar uma nova ideia de família ali se formando, através de uma tragédia iminente. Quando esse laço é desfeito na progressão dos eventos, entra em cena o tomo que foi construído especialmente para essa versão.
Mas será então A Chamada um dos raros casos onde um remake é apreciado por quem já viu uma versão (ou duas) anterior, e só isso o justificaria? Levando em consideração que ninguém é obrigado a nada, podemos sim ter uma fatia de público que nem conhece os anteriores, e estarão na fila do novo filme de Liam Neeson. Isso é benéfico, levando em consideração que assistirão a um filme não apenas melhor que os últimos, mas acima de tudo com um teor diferente. Se não basta para tirar alguém de casa hoje, talvez seja suficiente para quem está em busca de ser surpreendido, ainda que de leve.
Um grande momento
O surgimento do chantagista