- Gênero: Comédia romântica
- Direção: Adrian Powers
- Roteiro: Adrian Powers, Caera Bradshaw, Katharine McPhee
- Elenco: Delta Goodrem, Joshua Sasse, Roy Billing, Steph Tisdell, Simon Brook
- Duração: 85 minutos
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A Netflix consegue ser bem cara de pau, às vezes. Há três anos, uma comédia romântica natalina agradou em cheio os espectadores que se dispuseram a assisti-lo. Missão Presente de Natal mostrava um rapaz que ajudava comunidades próximas ao Oceano Pacífico com um avião de guerra antigo. Essa base aérea é designada para fechamento por uma deputada, que manda sua assessora para tal anúncio, e obviamente eles acabam por se apaixonar, o que impede a jovem de realizar seu intento. Pois essa história tem uma espécie de reedição aqui em O Amor Está no Ar, com os gêneros trocados – aqui, quem faz as entregas de mantimentos por ilhas da Austrália é uma jovem órfã, que receberá um herdeiro de uma grande empresa para investigar e fechar a pequena companhia aérea que pertence à família da moça.
Sabe-se lá como, O Amor Está no Ar é escrito a seis mãos, e ainda assim tudo parece ao mesmo tempo simplório e muito bagunçado. A começar pelo já dito, o filme estar nesse lugar que o próprio streaming se coloca, de parecer plagiar a si mesmo – ou “referenciar”, uma outra produção igualmente sua. Se está fazendo sucesso (e está), é porque o grau de exigência para o que é ofertado diretamente em casa está muito baixo, vide os melhores e mais desafiadores produtos raramente estarem entre os mais assistidos. É uma pena que o público esteja aceitando produtos de procedência muito inferior ao que pode consumir, em uma aceitação contínua de material que não se justifica sequer a produção, que dirá ser usufruído.
Esse é o terceiro longa de Adrian Powers e a qualidade aqui parece tão somente um bem descartável, que nos pegamos pensando se vale a pena continuar. A textura estética de O Amor Está no Ar remete a algum episódio de seriado fracassado da tv americana dos anos 90 – o início da década, mais precisamente. Não é apenas um aspecto de produto barato e feito às pressas que predomina, mas a pegada geral, do elenco a figuração, dos cenários a maquiagem, tudo soa como um projeto de baixíssimo orçamento, com iluminação chapada. É como se uns testes de câmera para uma novela dos anos 80 tivessem sido recusados e a produção aqui aceitasse o desafio de transpor uma ideia televisiva para o cinema, mas com igual capacidade técnica.
O resultado pode até ser encarado como “um passatempo leve e inofensivo” (eu consigo ouvir as vozes repetindo isso), mas a precariedade completa nos obriga a não se envolver com os personagens, com seus dilemas. O Amor Está no Ar não representa qualquer desafio para o pensamento narrativo ou sua construção imagética, porque é tudo colocado no caminho da despretensão, de não preocupação com o que é ofertado ao público. Mas não deveria ser assim que o espectador deveria ser tratado; porque ofertar títulos tão vazios e desalmados? No fundo, é um círculo vicioso que não privilegia ninguém, e todos saem perdendo em conjunto. São filmes como esse que arregimentam uma má reputação ao streaming, não por serem necessariamente ruins (isso também), mas por serem filmes descuidados, definitivamente.
Um exemplo do que rapidamente se mostra algo básico da produção: a protagonista vivida por Delta Goodrem é uma piloto de avião, muito despachada e com um figurino bem básico. Do pescoço para cima, porém, trata-se de uma modelo de alguma marca de cosméticos: sempre muito maquiada, com cílios postiços e um visual típico de uma estrela de cinema. Outra cena absurda é a resolução do conflito principal, que parece indissolúvel… até o filme precisar acabar, o motivo humano para tal simplesmente abrir um sorriso e concordar com algo em, juro, menos de 1 minuto. O Amor Está no Ar é repleto de momentos assim, que a mim em particular, provocaram mais constrangimento do que diversão – e olha que sou muito aberto a comédias românticas.
É desse conjunto de coisas, e muitas outras, que detonam qualquer credibilidade de O Amor Está no Ar, acabando por contar exclusivamente com a boa vontade dos amantes de comédia romântica dos mais fervorosos, ou daqueles que se contentam com qualquer exemplar do gênero. Esse é o tipo de produção que nos faz sentir saudades dos piores filmes de Julia Roberts, Sandra Bullock e Meg Ryan, porque nem na juventude delas se permitiu algo tão canhestro e desprovido de carisma como isso aqui.
Um grande momento
O diálogo entre Dana e Nikki sobre William