- Gênero: Comédia dramática
- Direção: Kelly Fremon Craig
- Roteiro: Kelly Fremon Craig
- Elenco: Abby Ryder Fortson, Rachel McAdams, Benny Safdie, Kathy Bates, Elle Graham, Amari Price, Katherine Kupferer, Zach Brooks, Isol Young
- Duração: 101 minutos
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Em determinado momento, pelo ‘Deus’ no título original, pela forma como a protagonista parece sempre procurar uma resposta no divino, Crescendo Juntas parece apontar que há um elogio à religião, algo que poderia ser doutrinador dependendo do ponto de vista. Como se alguém “da área” pudesse se cercar da mensagem do filme para criar uma outra mensagem, mais propensa à sua. Mas aos poucos, o que o projeto apresenta é que, entre outras coisas, esse é um filme sobre dúvidas, onde nem sempre teremos alguma resposta que seja compatível com o que esperamos. Logo não, não há uma saída religiosa que esteja aguardando Margaret; na verdade, tudo o que ele precisa entender está no bom e velho amadurecimento mesmo. É o tempo e a bagagem que nos complementa, e apresenta a cada um de nós caminhos possíveis.
Kelly Fremon Craig, diretora do excelente Quase 18, mais uma vez acerta ao incorporar uma dose extra de possível realismo ao mais que tradicional ‘coming of age’ feminino, que tão bem fez ao cinema americano nos últimos anos. Filmes como A Mentira, Fora de Série, Oitava Série e tantos outros têm colocado tais personagens, que foram tratados como estereótipos durante décadas, em uma frequente interpretação crível da vida que ainda não é adulta. Craig se mostra mais uma vez um nome acertado para o gênero, e adapta o romance clássico de Judy Blume para uma linguagem universal, ainda que seja uma ideia que o cinema americano nos carregou, a de que precisamos investigar nossa formação desde a infância.
A base da narrativa aqui atenta para o tanto de danos que causamos, em qualquer idade, ao deixar algo “para depois”. Um engano pequenino, um segredinho bobo, uma omissão sem intenções escusas, no entanto, podem criar bolas de neve que carregamos por longos anos e aqui em Crescendo Juntas tal erro é cometido pelos personagens o tempo todo. Não apenas Margaret precisa desapegar do que é secreto, mas sua mãe, sua avó, suas amigas – um grupo de mulheres que prefere criar cortinas de fumaça a lidar com os próprios conflitos. Porque fomos moldados a evitar o atrito, ainda que dessa maneira, o provável embate só será adiado, e quando enfim acontecer, os resultados podem ser incontornáveis. Aqui, as consequências não são dessa ordem, mas o resultado não atenta para soluções mágicas, e sim para lidar com as perdas.
Um dos exemplos é a credibilidade que Craig atesta ao tirar da nossa direção o lugar mais óbvio na construção narrativa. Já testados de inúmeras maneiras à lógica estadunidense de cinema, com ação e reação, Crescendo Juntas não se compromete com o clichê, o oposto disso até. Quando o espectador estiver esperando que o encaminhamento de uma situação seja a esperada pela tradição, o filme trata de mostrar que o mais óbvio dentro do cinema, não corresponde ao mesmo na vida real. Com isso, pequeninas rasteiras vão sendo acrescidas ao longo de decisões importantes para o roteiro, e essas surpresinhas não parecem orgulhosas de si, mas sim um acerto dentro de um grupo de ideias onde tudo já parece previamente testado.
O elenco de Crescendo Juntas é um acerto coletivo, desde o trio de amigas da protagonista, dotadas de intensa personalidade, até o núcleo principal. A jovem Abby Ryder Fortson acrescenta serenidade a uma personagem que está em constante dúvida a respeito de suas atitudes, isso é um acréscimo plus de simples adequação a uma narrativa que não tem outro interesse que não o de reproduzir sutilezas. Sua mãe na ficção é uma delicada Rachel McAdams, que está em plena campanha para tentar indicações fortes na temporada; acho exagerado que seja considerada nesse lugar, mas isso não tira os méritos de sua entrega. Também Benny Safdie volta a exibir sua extensa camada de versatilidade como um homem comum, o pai de uma história para toda a família.
Um pecado mais evidente de Crescendo Juntas é mover suas personagens a uma direção onde conseguimos perceber que, na narrativa mais alongada do livro, tantas situações deveriam ser melhor acabadas. No caso da situação envolvendo sua avó paterna, vivida com o brilho de sempre por Kathy Bates, isso é bastante óbvio, e o título em português parece acoplar tantos outros crescimentos coletivos que o roteiro não consegue abranger. Três gerações de mulheres, como o material gráfico da produção deixa claro, deveriam estar contempladas em cena, e o peso definitivamente não é o mesmo. O resultado, no entanto, é de um agradável e acima da média passatempo familiar cheio de sequelas a respeito de não deixar para os meses posteriores o que podemos resolver hoje, e uma bem-vinda ode a sororidade mesmo em tão tenra idade.
Um grande momento
A conversa entre Margaret e Laura