- Gênero: Terror
- Direção: Anna Zaytseva
- Roteiro: Evgeniya Bogomyakova, Olga Klemesheva, Anna Zaytseva
- Elenco: Anna Potebnya, Diana Shulmina, Danya Kiselyov, Olga Pipchenko, Pavel Yulku
- Duração: 93 minutos
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A essa altura, o dispositivo utilizado em O Jogo da Morte não só já esgotou suas possibilidades como passou para a fase seguinte da categoria, que é quando começa a demonstrar não apenas suas fraquezas, mas os artifícios utilizados para tentar enganar o espectador. Estou falando do ‘desktop movie’, aquele subgênero criado para o cinema fantástico mas que já foi absorvido até pela comédia romântica, que consiste na ação dramática toda ser encenada nas cercanias dos aparelhos de comunicação virtual. Entre celulares, computadores, câmeras de segurança e muitos aplicativos, desenvolve-se um tempo abstrato onde o gestor é a tecnologia, e seus muitos vetores de perigo constante, que os gatilhos de cada obra instauram.
Especificamente, me interessa o que sua diretora, Anna Zaytseva, tem a oferecer. É interessante observar um filme de terror russo que seja comandado por mulheres de uma forma geral. Suas protagonistas são femininas, as vítimas em sua maioria são jovens meninas, e inclusive a ameaça tem uma figura de mulher para compor esse quadro. Não há uma proposta de mostrar um desenho de opressão de gênero, e existe sim ao menos um personagem masculino no campo central, mas é curioso que isso salte aos olhos, quando títulos comandados exclusivamente por homens não provoquem. Além disso, o dispositivo, ainda que pareça já ter encerrado suas novidades aqui, transforma O Jogo da Morte em uma forma de oxigenar um gênero, e um assunto que parecia encerrado.
O assunto é a febre da ‘baleia azul’, que até em novela global foi parar em 2017 (A Força do Querer), e lá já era algo ultrapassado. Não sabemos se foi uma tentativa de pegar carona em algo ultrapassado – onde o filme ao menos entende isso e verbaliza tais questões – ou se a produção demorou muito para ser filmada, e decidiram manter algo do “passado”. O fato é que faz sentido que tal onda da ‘deep web’ tenha chegado até uma produção que se vale justamente da internet para seu molde. O que era então uma mistura que poderia dar errado, acaba se mostrando apenas um entretenimento atrasado, mas que funciona para o público que ainda pode estar começando a encarar esse campo dos títulos que se passam inteiramente em aparelhos virtuais.
Não há muita diferença no modelo do que é feito em Buscando… ou em Amizade Desfeita, mas ainda existe um campo de interesse genuíno por essas produções, que a pandemia popularizou com suas ‘live’ entre amigos. Esse tipo de filme também ganhou força com a mudança de comportamento jovem, que está cada vez menos propenso a interações reais de sociabilização. Não existe mais o agrupamento entre amigos, porque qualquer balada é substituída pela internet com facilidade; a retração, que já era grande, ganhou motivação com a covid-19. O Jogo da Morte é uma visão radical a respeito do isolamento deliberado, que produz anomalias como a própria ‘baleia azul’, um jogo de tarefas inofensivas para jovens deprimidos que culminam no suicídio dos participantes.
Talvez o principal problema de O Jogo da Morte seja seu curtíssimo campo de observação, que transforma o roteiro em um manancial de situações previstas com alguma antecipação. Aos poucos, a experiência coletiva se mostra repetitiva de alguma forma, mas esse não é exatamente o maior dos pesares. A direção de Zaytseva não impede que o roteiro a seis mãos provoque constantemente alguns desacertos coletivos, informações deturpadas, desenvolvimento preguiçoso e pistas falsas bobas, que impedem o filme de se encerrar rápido demais, ainda que falte fôlego. O importante, aqui nesse caso, é fingir não perceber o que é muito óbvio e focar nas emoções baratas e divertidas que o filme de terror pode oferecer. Em duas semanas teremos um novo exemplar e essa aqui será a diversão momentânea de fevereiro de 2024.
Um grande momento
Caindo do prédio