- Gênero: Documentário
- Direção: Jenny Popplewell
- Roteiro: Jenny Popplewell
- Duração: 85 minutos
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É incrível como todos esses ‘true crimes’ que estreiam na Netflix existe um grupo de policiais que declara “nossa, essa é a história mais inacreditável que já ouvi falar”. E isso tem a função de preparar o espectador para algo de cair o queixo, é a abertura dessas produções e geralmente esse mesmo ponto de partida apresenta o título. Na maior parte das vezes, os policiais têm razão e, tirando algum exagero aqui e ali, títulos como Amante, Stalker e Mortal têm sim seu grau surpreendente nos crimes descritos. O mais novo hit do streaming, O Que Jennifer Fez?, ao menos para nós brasileiros, não tem nada que sequer pareça estar nesse lugar. E muito rapidamente tudo se torna extremamente aborrecido.
Já começa muito mal pelo título do filme, original ou em português. Um filme que abre com sua protagonista indefesa, mas tem é nomeado dessa forma, é porque foi percebido muito rapidamente que não valia muito a pena usar uma cortina de fumaça. Então, se não é uma boa forma batizar o filme como O Que Jennifer Fez?, quem está por trás dele não parece muito interessado em tentar protegê-lo. Então, toda essa abertura, repetitiva em um nível que sempre provoca risos mesmo quando funciona na narrativa, parece ainda mais infame aqui, quando não há qualquer importância em proteger a produção. O espectador espera então que tudo isso seja uma armadilha falsa para pegar os trouxas; sinto informar que isso fica na nossa vontade.
O problema com O Que Jennifer Fez? exatamente para o Brasil é que nós temos uma história muito conhecida e muito parecida com a de Jennifer Pan, a sobrevivente de uma tentativa de massacre que matou sua mãe e deixou seu pai entre a vida e a morte. Não vou citar que história é no texto, mas eu deverei ser o único, porque qualquer pesquisa no google revela a semelhança. Não importa muito, porque isso tudo influi no resultado final da percepção, e também ajuda o fato de que não se trata de uma produção necessariamente lá muito dedicada. Estamos diante do mesmo esquema de produção de todos os outros, com os mesmos valores – ou a mesma ausência de, dependendo da visão de cada um.
Quando nos ligamos que os enquadramentos são os mesmos de todos os outros filmes do gênero lançados nos últimos dois anos, e que nada disso consegue ser amenizado porque dessa vez a história foi toda sacada com 5 minutos de filme, não sobra nada de O Que Jennifer Fez?. O trabalho da diretora Jenny Popplewell (de Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha, “igual” mas “superior”) aqui é só reproduzir os cacoetes do gêneros, as mesmas câmeras lentas, a mesma iluminação soturna dos depoimentos policiais, as mesmas caras de surpresa do “elenco” para anunciar uma reviravolta. Como a substância não veio dessa vez, o formato, que é sempre problemático, não consegue resistir.
Com menos de hora e meia de duração, O Que Jennifer Fez? não é um filme arrastado, mas se ele conseguiu ser interessante para alguém, com certeza isso não aconteceu com o público brasileiro. Com cada sacada sendo presumida muito rápido, resta ao espectador acompanhar sem muita empolgação um veículo desinteressante. E o filme ainda levanta a questão a respeito dos ‘true crimes’ serem reféns de suas narrativas, porque o formato já perdeu o fôlego. Será que estamos observando a falta de futuro para algo que hoje ainda é garantia de sucesso? Sinto que já estamos diante das respostas para essa pergunta, e que breve os streamings talvez tenham que explorar um novo formato – ou aprimorar esse.
Um grande momento
Jennifer caminha pela sala na versão do pai