Crítica | Outras metragens

An Old Friend

Sempre com ele

Há encontros que parecem acontecer fora do tempo. An Old Friend, de Nuk Suwanchote, parte de um espaço suspenso para falar de memória, perda e reconciliação. Um homem idoso recebe a visita inesperada de alguém que fez parte de sua infância. Não é um reencontro qualquer, o visitante é o seu amigo imaginário. Entre eles, agora, não há mais o riso leve de antes, mas a urgência de quem percebe que o tempo, para um deles, já acabou.

Suwanchote constrói essa relação com um olhar delicado e preciso, alternando momentos de intimidade silenciosa com diálogos que carregam tanto afeto quanto melancolia. O amigo, ainda jovem, observa o homem envelhecido e tenta reconhecer nele o menino que um dia conheceu. Essa assimetria, com um lado preso à lembrança intocada, e outro moldado pelas décadas, dá força ao filme.

Há, no meio da narrativa, uma breve referência a outros amigos imaginários, que aqui se revela como uma metáfora mais ampla: a ideia de que essas presenças invisíveis podem ser ecos de quem amamos e perdemos. Esse detalhe expande o alcance do curta e inscreve o reencontro em um imaginário coletivo, onde o vínculo afetivo é capaz de atravessar o tempo e a morte.

O elemento fantástico não é tratado como artifício, mas como extensão de uma ligação real. A fotografia reforça o clima de suspensão, enquanto a mise-en-scène privilegia a proximidade, com enquadramentos fechados, gestos discretos e mãos que hesitam antes de tocar. O ritmo calmo permite que cada troca de olhar ganhe peso, como se o filme convidasse o espectador a permanecer nesse instante antes que ele desapareça.

A história é simples, mas não rasa. Em poucos minutos, An Old Friend constrói uma parábola sobre vínculos que sobrevivem ao tempo e à ausência física, lembrando que há afetos que não envelhecem, apenas mudam de forma. O filme emociona ao mostrar que o reencontro aqui não é apenas uma visita, mas um último gesto de cuidado, e que esse amigo – ou mais do que amigo – esteve ali nos momentos em que o menino precisou dele.

Um grande momento
Entrando no quarto

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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