Crítica | Outras metragens

Trapped

Predestinado

(Trapped, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: David Cutler-Kreutz, Sam Cutler-Kreutz
  • Roteiro: David Cutler-Kreutz, Sam Cutler-Kreutz
  • Elenco: Javier Molina, Luke Cawley, Aedan Jayce, Ethan Jones, Joel Meyers, Keith William Richards
  • Duração: 15 minutos

Não é preciso que existam grades para reconhecer uma prisão. Em Trapped, de David e Sam Cutler-Kreutz, o encarceramento nasce do cotidiano invisível de um zelador de escola, Joaquín, que interrompe uma pegadinha e se vê encurralado entre os alunos, seus superiores e a própria moral. A trama é curta, mas revela um universo em que trabalho e classe definem fronteiras quase impossíveis de serem atravessadas.

A direção investe em tensão e proximidade. O ginásio escolar, espaço teoricamente de confraternização e liberdade, se transforma em espaço opressor. Cada decisão de Joaquín o empurra mais fundo em um jogo em que nunca terá real controle, porque as regras já foram escritas sem que ele tivesse voz. A câmera registra o corpo em movimento, sempre em serviço, na tentativa de reparar algo, mas nunca com a chance de existir fora da função.

A presença da filha amplia o conflito. Ela não é apenas personagem lateral, é a lembrança constante de que esse sistema se perpetua, de que o mesmo destino se insinua para a próxima geração. A falta de perspectiva não termina no zelador, mas atravessa famílias, condenando futuros à repetição de trabalhos invisíveis que sustentam a estrutura sem nunca serem reconhecidos por ela.

O curta encontra sua força justamente nesse choque entre a ação imediata de enfrentar obstáculos concretos e a violência abstrata de um classismo que não oferece saída. O suspense, aqui, não é apenas recurso narrativo. É metáfora do impasse social de quem vive preso em funções definidas pelo olhar de cima, sem a possibilidade de reescrever o próprio caminho.

O que fica de Trapped é o desconforto de perceber que o confinamento não termina com o fim da noite. Ele se estende para além das paredes da escola, ecoa na vida da filha e marca a certeza de que, para alguns, a ausência de perspectiva aprisiona tanto quanto qualquer corrente.

Um grande momento
Boa noite, garotos!

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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