- Gênero: Drama
- Direção: Richard Linklater
- Roteiro: Richard Linklater
- Elenco: Ethan Hawke, Margaret Qualley, Bobby Cannavale, Andrew Scott, Jonah Lees, Simon Delaney, Cillian Sullivan, Patrick Kennedy, John Doran
- Duração: 100 minutos
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Lorenz Hart sempre escreveu como quem amava demais. Amava a música, o teatro, as palavras e, talvez, o mundo que o rejeitava um pouco. Em suas letras, cabem ironia e melancolia, o riso e o desespero do apaixonado que sabe que não vai ser correspondido. São canções que sabem rir da solidão e da dor, e é justamente essa capacidade que faz Hart se parecer com o cinema, como aquele diálogo que sempre vai mais além, ou aquele gesto que nunca é só o que parece. Foi assim que ele se tornou, à sua maneira, o Rick Blaine dos musicais, aquele que finge cinismo, mas carrega o coração despedaçado.
Richard Linklater entende isso. Seu Blue Moon não tenta recontar a história de sucesso de Hart, mas capturar o momento em que o talento e a vida já não se ajustam mais. O filme se passa em uma única noite, quando Hart, já esquecido, bebe num bar enquanto o antigo parceiro, Richard Rodgers, estreia Oklahoma! (com exclamação no final) ao lado de Oscar Hammerstein II, seu novo colaborador. O mundo continua e ele, que escreveu as melodias do amor, fica para trás, com as palavras que não salvam ninguém, nem ele mesmo.
O filme é, em si, uma conversa. A estrutura teatral e a composição cênica restrita criam um palco para o texto. Cada fala carrega o peso de uma vida mal resolvida, e cada pausa parece ecoar um diálogo perdido de Casablanca. A diferença é que, aqui, ninguém parte, a guerra é interna e a separação é do tempo. Linklater, que sempre foi um cineasta da fala, transforma mais uma vez a palavra em imagem com rigor e delicadeza. Os sentimentos e personas surgem nas pausas, no modo como ele filma o silêncio entre uma piada e outra, no intervalo entre o humor e a tragédia, como se o riso fosse o último refúgio possível.
Sempre menor do que todos, Ethan Hawke, com corpo frágil, olhar febril e ansioso nos gestos, constrói um Hart que é puro descompasso. Com um desempenho que alterna sarcasmo e ternura, sempre à beira da autodestruição, é o retrato do homem que escreveu para todos, mas não sabia o que fazer com a própria vida. As escolhas da direção e da fotografia (de Shane F. Kelly) nos planos, iluminação e efeitos dão a tudo uma sensação de suspensão, como se aquele ambiente fosse feito de lembranças. Há beleza na decadência, e Linklater sabe filmar esse fim sem piedade, mas com afeto.
Blue Moon fala daquilo que o cinema sempre entendeu melhor que ninguém: o poder das palavras ditas na hora errada. Como Rick e Ilsa em Casablanca, Hart e o público trocam olhares que não voltam. Ele escreveu os diálogos perfeitos, mas não conseguiu vivê-los. O filme devolve essa ironia com delicadeza, fazendo com que cada frase espirituosa seja também uma confissão; cada canção, um epitáfio.
No fim, resta a música. “Blue Moon” toca, e o que antes era canção de amor se torna despedida. Linklater transforma o artista em personagem e o personagem em lembrança. Hart só queria ser ouvido e por uma noite ele é. Essas palavras, como todas, não precisam mudar nada, mas vão permanecer.
Um grande momento
Hart observa Elizabeth e Richard


