- Gênero: Comédia
- Direção: James L. Brooks
- Roteiro: James L. Brooks
- Elenco: Emma Mackey, Jamie Lee Curtis, Woody Harrelson, Jack Lowden, Kumail Nanjiani, Ayo Edebiri, Spike Fearn, Rebecca Hall, Julie Kavner, Becky Ann Baker, Joey Brooks, Albert Brooks
- Duração: 115 minutos
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Há filmes que se constróem com a ação e outros com a fadiga. Imperfeitamente Perfeita pertence claramente ao segundo grupo. O que move a narrativa não é a urgência do cargo, da ascensão ou da conquista de espaço, mas o desgaste silencioso de quem precisa sustentar expectativas demais, e o cansaço não fica restrito à personagem. O filme carrega na exaustão e faz com que o espectador tenha a sensação de um esforço contínuo que nunca se resolve por completo.
A história acompanha Ella McCay, uma jovem política em ascensão, prestes a assumir o cargo de governadora em um momento delicado do cenário institucional. Entre reuniões intermináveis, negociações de bastidores, pressões partidárias e a constante vigilância pública, ela tenta equilibrar a vida profissional com relações pessoais cheias de interesses. O problema é que o filme se espalha em muitas frentes, acumulando situações, personagens e conflitos que raramente se aprofundam de fato.
Quinze anos após seu último longa-metragem, Como Você Sabe, James L. Brooks retorna a um território que conhece bem: personagens que tentam se estabelecer entre o que é público e o que é íntimo, e onde a comédia nunca chega como alívio pleno. Em Imperfeitamente Perfeita, a política não aparece exatamente como embate ideológico. Na verdade, surge como ambiente de pressão constante, um espaço que consome energia, tempo e afeto. O filme observa isso com insistência, mas nem sempre com precisão, alongando situações que só repetem o desgaste sem avançar dramaticamente.
Ella é alguém competente, preparada e segura, mas o que permanece, no entanto, é o intervalo entre essa imagem projetada e o esforço contínuo para mantê-la. Emma Mackey, muito bem no papel, constrói a personagem a partir dessa instabilidade controlada: o corpo firme e o discurso consciente, mas com o olhar frequentemente cansado, como se estivesse sempre calculando o próximo passo para não falhar. O problema é que o filme passa a girar em torno dessa mesma tensão, repetindo o conflito sem encontrar um ponto de virada claro.
Jamie Lee Curtis interpreta a tia de Ella, uma presença constante, que funciona como base emocional e também como contraponto silencioso à instabilidade da protagonista. É alguém que sustenta, ampara e resolve. Curtis cativa no seu papel e faz uma boa dupla com Mackey, mas a dinâmica acaba reforçando o desequilíbrio do filme. Enquanto Ella se fragmenta tentando dar conta de tudo, a tia permanece estável demais, segura demais, contribuindo para essa sensação de que Imperfeitamente Perfeita nunca encontra o ponto de tensão que permitiria avançar.
Brooks evita a trajetória clássica da superação e nem busca o equilíbrio entre vida pessoal e ambição profissional. Ainda assim, a recusa em conduzir o filme a algum tipo de síntese acaba produzindo um esgotamento narrativo. Imperfeitamente Perfeita se parece demais com sua protagonista: sobrecarregado, disperso, sempre ocupado em sustentar muitas frentes ao mesmo tempo, sem conseguir chegar onde deveria.
O resultado é um filme que observa bem o cansaço do poder, mas que também se deixa consumir por ele. Ao insistir na exaustão como motor dramático, termina oferecendo ao espectador a mesma sensação de desgaste contínuo, sem recompensa proporcional. A imperfeição que poderia ser força vira só falha mesmo.
Um grande momento
O irmão chorando


