(Tomboy, FRA, 2011)
Tomboy é um nome criado para definir as meninas que têm o comportamento considerado “típico de menino”. Gostam de roupas e atividades tradicionalmente definidas como masculinas.
Laure é uma pré-adolescente que acabou de se mudar com a família para um conjunto habitacional onde não conhece ninguém. Seus cabelos curtos e as roupas masculinas que veste permitem que ela se apresente a Lisa, a primeira vizinha que se aproxima dela, como Michaël e assim seja conhecida por todas as outras crianças do local.
Em sua vida de Michaël, protegida pela aparência e pelo corpo ainda não desenvolvido, Laure brinca, corre, joga futebol, nada e se apaixona, mas não deixa de viver a vida familiar como a filha mais velha, companheira do pai durante a mudança, da mãe nas compras e da irmãzinha caçula nas brincadeiras mais infantis.
Qualquer história que envolva a identidade sexual e de gênero pode despertar preconceitos e ser encarada de maneira negativa ou pouca amigável pela maioria, mas a diretora francesa Céline Sciamma (Lírios D’Água) a conta de uma maneira tão sutil e envolvente que não há espaço para qualquer tipo de pré-julgamento.
O roteiro simples não perde tempo com floreios e explicações e acompanha as descobertas do grupo de crianças à medida em que elas acontecem, sempre de maneira natural, sem muita interferência de trilha sonora e com uma fotografia inspirada de Crystel Fournier (A Criança da Meia-Noite), transformando os espectadores em observadores curiosos e completamente envolvidos com cada um dos personagens em tela.
A liberdade experimentada por todos os pequenos, deixados à vontade por Sciamma, também pode ser sentida na dinâmica familiar criada entre Sophie Cattani (Feliz Que Minha Mãe Esteja Viva) e Mathieu Demy (A Garota do Trem), os pais; Zoé Héran, a jovem Laure, e Malonn Lévana, a irmã caçula e dona do papel mais delicioso de todo o filme, presença constante em todos os momentos da vida da primogênita.
Entre pequenos momentos de tensão, logo solucionados, e beleza, a história de Tomboy vai se construindo e caminha rumo ao mais grave dos problemas: aquilo que vemos ser construído é uma mentira, que, cedo ou tarde, precisa ser enfrentada.
Um Grande Momento
Jeanne, depois da visita de Lisa.