(Bella addormentata, ITA/FRA, 2012)
Direção: Marco Bellocchio
Elenco: Toni Servillo, Isabelle Huppert, Alba Rohrwacher, Michele Riondino, Maya Sansa, Pier Giorgio Bellocchio, Gianmarco Tognazzi, Brenno Placido, Fabrizio Falco
Roteiro: Marco Bellocchio, Stefano Rulli
Duração: 115 min.
Nota: 8
Antes de falar de A Bela Que Dorme é preciso lembrar a história de Eluana Englaro, uma jovem italiana que, após um acidente de carro, foi mantida contra a vontade dos pais em estado vegetativo por 17 anos. Depois de uma longa batalha jurídica, a suspensão da alimentação da jovem foi autorizada, ela foi transferida de clínica e iniciou o processo de morte assistida.
A disputa política chegou aos mais altos escalões. O premiê da Itália, Silvio Berlusconi, publicou um decreto urgente para impedir a eutanásia, mas o presidente italiano, Giorgio Napolitano, recusou-se a assinar um documento que contrariava uma decisão judicial superior. A morte, prevista para acontecer em doze dias, aconteceu alguns dias antes, na véspera do senado começar a votação de projeto de lei proposto por Berlusconi com o mesmo teor do decreto.
A história de Eluana causou uma grande comoção na comunidade e reacendeu o debate sobre o direito de morrer. Vários grupos de defensores e opositores da eutanásia se pronunciaram sobre o caso. Marco Bellocchio (Vincere) volta à história e, sem se posicionar contra ou a favor, faz um retrato interessante da questão em seu novo filme.
Embora a polêmica de Eluana seja o ponto fundamental, o que se vê na tela é a personificação das vozes de vários grupos, através de suas experiências e interesses. Um político precisa assumir uma posição contrária à sua convicção em nome da fidelidade partidária, uma jovem não consegue entender que o amor é o que motiva decisões como essa, uma mãe morre em vida esperando que a filha em coma acorde e um médico impede o suicídio de uma jovem viciada em drogas.
O tom angustiado e quase desesperado do filme é perfeito para a questão. Não há como superar a fragilidade da lógica adotada, não há como fechar os olhos para a esperança vã ou para a culpa cristã e muito menos achar que existe muito mais do que falsas intenções nos interesses políticos.
Ainda que exista alguma irregularidade na comparação entre a força das histórias contadas, a montagem de Francesca Calvelli (Terra de Ninguém) consegue intercalar bem todas elas, criando um conjunto equilibrado que, inclusive, diminui essas diferenças. O trabalho plástico impressiona, tanto na direção de fotografia de Daniele Cipri (È stato il figlio) quanto no desenho de produção de Marco Dentici (A Hora da Religião).
As atuações também são outro ponto alto do filme. Isabelle Hupert (Amor) está maravilhosa como a mãe que abandonou a família, uma bem-sucedida carreira de atriz e a própria vida para se dedicar a orações, na esperança de se ouvida por Deus e ter sua filha de volta. Toni Servillo (Gomorra), que vive um político em crise por defender algo em que não acredita e sofre com o distanciamento da filha, também chama a atenção.
De forma dura e por vezes cruel A Bela Que Dorme chega para fazer pensar. Bellocchio coloca todas as possibilidades na mesa e dá voz a várias posições, sem perder de vista a fé, o amor e outros interesses. As questões estão ali, todas as contradições também, mas a escolha de um caminho é exclusiva do espectador.
Um Grande Momento:
Nas saunas do senado.
Links
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