Crítica | FestivalFestival do Rio

A Camareira

(Das Zimmermädechen Lynn, ALE, 2014)

Drama
Direção: Ingo Haeb
Elenco: Vicky Krieps, Lena Lauzemis, Steffen Muenster, Christian Aumer
Roteiro: Markus Orths (livro), Ingo Haeb
Duração: 90 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Quase nada se sabe sobre o passado de Lynn, a metódica camareira de pequeno hotel. O que aconteceu em sua vida vai sendo mostrado aos poucos pelo diretor Ingo Haeb, quase na mesma velocidade em que as coisas acontecem para a fria jovem.

Entre marcações coloridas na agenda de uma rotina extremamente calculada, ela arruma os quartos com perfeição, conversa com seu terapeuta, tem encontros sexuais com o chefe e antigo amante e vasculha a vida dos hóspedes, numa curiosidade quase doentia.

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Depois de quase ser pega, ela resolve se esconder embaixo da cama de um dos quartos e descobre aí uma nova rotina a ser inserida na tal agendinha colorida. Toda quarta-feira, é dia de estar sob a cama de algum quarto. Em uma dessas noites, Lynn presencia uma sessão de sadomasoquismo e conhece Chiara.

Lembrando os antigos filmes alemães de observação, o diretor não faz questão nenhuma de economizar no tempo que entrega à construção de sua protagonista, mas isso, de maneira nenhuma, afasta o público. A curiosidade por aquela mulher que vai descobrindo uma vida diferente daquela que tivera até então é estabelecida no primeiro contato com ela, quando conta sobre sua experiência com uma concha do mar, e segue aumentando a cada novo sonho e experiência.

O fato de ser um filme de observação, com um ritmo extremamente lento, torna o trabalho de Haeb ainda mais interessante. Toques sutis e a preocupação com o desenho de cada cena transformam essa relação com o tempo, sempre muito bem marcado e cadenciado pela trilha sonora.

A interpretação de Vicky Krieps, premiada no Festival de Munique, também é fundamental para o resultado positivo. Ainda que não seja brilhante, sobressai em algumas cenas, como na primeira sessão de sexo entre Chiara e o hóspede. Aquilo que não se vê na tela fica claro nos olhos da atriz.

Uma agradável surpresa no Festival do Rio. Não é um filme fácil e pode parecer aborrecido para alguns, mas há poucas construções de personagens tão eficientes. Mesmo em filmes que são seus personagens, como este.

Vale a pena conhecer.

Um Grande Momento:
A primeira sessão de SM.

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IMDb

[Festival do Rio 2014]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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