(La caridad, MEX, 2016)
Uma filmagem caseira apresenta o casal Angélica e José Luís em sua festa de 30 anos de casamento e acompanha o discurso que dará nome ao filme sobre a caridade. A confraternização familiar dá lugar a uma cena de acidente de carro e, em seguida, José Luís está deitado em uma cama de hospital fazendo exercícios com a perna amputada. O impacto dessa nova realidade vai afetá-lo, assim como ao relacionamento com sua esposa e a vida dos dois.
A angústia e a desolação estão presentes no cotidiano daquele casal, que não conversa e parece não conseguir extravasar os sentimentos. É como se ambos estivessem sempre com aquele aperto no peito que não consegue ceder e como se coisas negativas do passado encontrassem um lugar mais propício para se instalar.
O contato com o passado encontra sua maior dificuldade na relação com o filho único do casal, Dany. É como se algo fizesse tudo dele ser escondido dentro do mesmo armário empoeirado onde estão as muletas que Angélica não se lembra de ter novamente em casa.
Outras coisas estão perdidas naquele caminho, afinal de contas, são 30 anos juntos. Mas o que se expõe, de ambos os lados, é uma falsa tranquilidade e uma doçura no lidar que nunca seria totalmente falsa, mas não é completamente verdadeira. A sensação é de vazio e insatisfação e só deixa de existir quando a figura de Eva, enfermeira contratada para cuidar de José Luís está em cena.
O fascínio que a jovem exerce no homem cansado do cotidiano de danças em programas de entretenimento de quinta categoria e nada para fazer faz com que ele volte a olhar para vida de outra maneira. Enquanto isso, Angélica tem mais dificuldades em encontrar espaço para sua recuperação.
O diretor de A Caridade, Marcelino Islas Hernández, também responsável pelo roteiro, conta sua história de maneira delicada. Sem pressa e optando por enquadramentos curiosos, muito bem trabalhados pelo diretor de fotografia Rodrigo Sandoval, aposta em quadros estáticos e na liberdade espacial aos personagens. As opções estéticas fazem com que a trama flua de maneira natural e dá espaço para que sentimentos íntimos e profundos se concretizem.
Uma história que, sem apelações, estouros ou cenas exageradas, chega a pontos muito profundos e revisita a compreensão de amor, como um sentimento que está cheio de tantos outros e encontra na caridade do título sua definição mais completa.
Um Grande Momento:
O quadro.
[5º BIFF]