Crítica | CinemaDestaque

Jurassic World: Recomeço

(Jurassic World: Rebirth, EUA, GBR, MLT, IND, TPE, 2025)
Nota  
  • Gênero: FIcção científica
  • Direção: Gareth Edwards
  • Roteiro: David Koepp
  • Elenco: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Duncan Kincaid, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo, Luna Blaise, David Iacono, Philippine Velge, Sylvain Bechir, Ed Skrein
  • Duração: 133 minutos

A essa altura, a franquia Jurassic World já não tem a menor vergonha de abandonar qualquer nuance científica ou dramática herdada do Jurassic Park original. Recomeço não é simplesmente um título; é uma confissão: um reinício não só da história, mas da completa lógica interna da saga. E o mais curioso é que o filme se vende como um “recomeço”, mas é uma paródia involuntária das próprias ideias que tenta ressuscitar.

Desde o primeiro filme Jurassic World, a franquia foi se afastando de tudo que Spielberg causou em 1993. O primeiro parque funcionava pela ironia sombria do controle da natureza que se volta contra o homem. Já Recomeço parte do princípio de que dinossauros podem simplesmente coabitar cidades humanas, ignorando não só a logística biológica, mas também qualquer tensão dramática. O mundo não é mais jurássico, é um amontoado de CGI em escala global, onde a única ameaça real é a fadiga do espectador.

Do ponto de vista técnico, o filme é uma ode ao excesso: planos aéreos espetaculosos, dinossauros em todas as paisagens possíveis e sequências de perseguição que mais parecem extraídas de filmes de ação genéricos. A direção opta pelo ritmo frenético, como se velocidade fosse um substituto para a construção narrativa. E aí está um dos maiores pecados de Recomeço: ele é visualmente exaustivo e emocionalmente vazio. Tudo é grandioso e nada é importante.

O roteiro, por sua vez, abraça o que há de mais preguiçoso na nostalgia moderna, com relações superficiais e diálogos expositivos ao extremo. Qualquer tentativa de comentário social é tão rasa que chega a ser cômica. O filme tenta fazer alegorias sobre biotecnologia e ganância corporativa, mas tudo se perde na montagem desenfreada e em reviravoltas sem sentido ou qualquer peso dramático.

Historicamente, é triste ver uma saga que começou com Spielberg elaborando um blockbuster que era, ao mesmo tempo, um thriller apavorante e uma reflexão visual sobre o poder da ciência e os limites humanos, se transformar em algo tão genérico. Pior, dependente de efeitos especiais datados no nascimento e com um dos dinossauros mais horrorosos já criados. Recomeço é o ápice do esvaziamento da franquia, um filme que até tenta resgatar elementos do passado, mas sem a menor preocupação com coerência ou impacto.

No fim, Jurassic World: Recomeço não recomeça nada. Ele é o encerramento simbólico de uma trajetória que começou com reverência pela ciência e terminou com reverência pelo algoritmo das bilheterias. Um exercício de nostalgia mal digerida, onde o verdadeiro fóssil é a memória do que a franquia já foi.

Um grande momento
Xixi na mata

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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