(Võta või jäta, EST, 2018)
Um trabalhador em uma obra sai para beber uma cerveja com os colegas, arruma uma briga e vai receber o salário todo machucado no dia seguinte. Nada que já não vimos 739 vezes antes. É quando A Escolha nos pega no contrapé. São dicas importantes sobre a persona, mas o caminho que vai se estabelecer é completamente outro.
Filmado com cara da nova tradição franco-belga de aproximação com o personagem, o longa estoniano – inclusive indicado pelo país para concorrer a uma vaga de melhor filme internacional no Oscar – traz uma saudável discussão sobre o desapego e a reconstrução.
Ao inverter papéis tradicionalmente ocupados, talvez reforçando demais o estranhamento, consegue alcançar uma realidade que não é percebida pela maioria das pessoas. A escolha de Erik vem marcada por uma renúncia que nem sempre – ou melhor, quase nunca – é opcional para as mulheres. Como estabelecido para o patriarcado, sua existência já vem atrelada ao renunciar.
Quando a diretora Liina Trishkina causa essa primeira ruptura, construindo quadros literais da reação inesperada, abre toda uma possibilidade de questionamentos e ponderações. Tudo é feito com muita delicadeza, sem pressa. Podem ser várias situações intercaladas, mas a relação vai se estabelecendo aos poucos.
Erik vive tudo aquilo que milhares de mulheres vivem ao redor do mundo, mas se adapta, assim como elas. Ele não aceita interferências, tem que adaptar sua rotina para ter Mai sempre ao seu lado, perde a cabeça, faz merda. Nada que seja muito diferente da chegada de uma criança.
Se é muito bom ver a construção daquela relação e o surgir desse novo homem, há uma certa frustração com o terço final de A Escolha. O roteiro da própria diretora busca o caminho previsível e, ao se apegar ao óbvio, aqui mal estabelecido, ela rompe a dinâmica, só recuperando-a nas últimas cenas.
Ainda assim, A Escolha é um filme que vale ser conhecido, seja pelo capricho na execução como pela análise contextual. Em um mundo onde as opções devem ser de todos, é preciso ver e rever outras possibilidades.
Um Grande Momento
O remorso pós descontrole.