(A Falta Que Nos Move, BRA, 2007)
Na antevéspera de natal, cinco amigos se reúnem em uma casa para uma experiência. Juntos devem preparar o jantar para eles e um sexto convidado que não conhecem e não têm certeza se chegará.
Adaptação da peça A Falta Que Nos Move… Ou Todas as Histórias São Ficção, criada e dirigida também por Christiane Jatahy e com um elenco quase idêntico, o filme consegue trazer à telona a sensação de cumplicidade e curiosidade do público com as pessoas que preparam a comida e são conduzidas, de certa maneira, pela ausência deste sexto elemento.
As primeiras imagens, em tela dividida, não são as mais encorajadoras, mas saber que a direção será feita via SMS (mensagem de celular) e que aquele grupo já está junto há quase quatro anos experimentando essa nova linguagem nos palcos desperta a curiosidade necessária para permanecer na sala.
O texto, em parte real, em parte ficcional, é excelente e traz à tona discussões sobre gerações, relações afetivas, família, carências e as dores do ser humano. O trabalho dos cinco atores, todos excelentes como pessoas que seriam e não seriam eles mesmos, é fundamental para validar tudo que acontece e despertar a dúvida. Até que ponto tudo aquilo é encenado? Quanto de realidade existe na encenação?
Volta-se à recorrente discussão sobre o trabalho de um ator na construção de um personagem e na vivência de experiências que não são suas e, ao mesmo tempo, são. Em A Falta Que Nos Move, os atores, para complicar, vivem eles mesmos. Enquanto isso, o público tenta descobrir o que é real sem muito sucesso. O roteiro na parede, os celulares apitando e a repetição de uma cena que acontece fora de hora mostram que nada é tão simples assim.
Muito da experiência teatral se enquadra bem no formato cinema pela presença de Walter Carvalho, que assina a direção de fotografia, e traz junto com ele uma excelente equipe de câmeras com Lula Carvalho, Guga Millet e David Pacheco. A fotografia faz com que a teatralidade das cenas não seja tão gritante.
Ainda assim, algumas opções de enquadramentos e o tempo de algumas passagens e do filme como um todo são complicados. O naturalismo do projeto faz com que ele não seja bem aceito por todo o público e pode cansar e mesmo desagradar. Por outro lado, os que gostam, gostam mesmo.
Sem dúvida, é uma experiência interessante para o cinema nacional e um curioso estudo sobre a interferência da realidade na ficção e vice-versa.
Daqueles que vale a pena conferir.