- Gênero: Ação
- Direção: Michael Polish
- Roteiro: Cory M. Miller
- Elenco: Emile Hirsch, Mel Gibson, David Zayas, Kate Bosworth, Stephanie Cayo, Jon Olson, Jorge Luis Ramos, William Catlett
- Duração: 91 minutos
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Há 25 anos atrás, Mel Gibson ganhava um inesperado Oscar de direção por Coração Valente, quem poderia prever isso dois anos antes?; há 13 anos atrás, Emile Hirsch se tornou “gente grande” e ator sério, sendo alvo de inúmeras premiações com seu desempenho elogiado em Na Natureza Selvagem. Bem, isso parece coisa do passado ao observarmos A Força da Natureza, em cartaz na Netflix daquele jeito que deve atrair multidões de espectadores, sem necessariamente que isso signifique comprovação de qualidade, mas deixando claro que, muitas vezes, a quantidade exorbitante de infâmia pode fazer agradável um produto de procedência duvidosa.
O diretor Michael Polish também tem um passado de glórias graças aos seus primeiros longas, principalmente Amor em Dobro, onde ele e o irmão gêmeo Mark (seu roteirista e produtor) foram amplamente premiados pelo filme independente e se imaginava um futuro diferente para ambos. Vinte anos depois, o diretor nunca se consagrou como parecia certo, mas a queda parece ter sido ainda mais grave, a medir pelo resultado dessa nova produção, que não apenas risca do mapa sua visão autoral e complexa de cinema, como apresenta um diretor do avesso ao que um dia se apresentou ao mundo.
Não se trata de uma inaptidão apenas com esse tipo de material, que poderia ser definido como um “blockbuster catástrofe”, na linha de um Twister, mas nem há dinheiro pra elaborar um filme daquele porte, nem Polish parece hábil na construção dos pontos de tensão, que passam pela chegada de um furacão em Porto Rico, mas não somente isso. Ao centrar toda a ação narrativa na perseguição de materiais furtados em um prédio, o filme comete o maior dos pecados, ao não justificar em nenhum momento a presença do evento climático, que permanece “em cena” sem qualquer função dramática que não seja a insistente chuva que provoca.
O roteiro assinado por Cory Miller nunca consegue justificar os atos dos personagens, suas falas ou porque um prédio que não é bem filmado parece guardar toda a sorte de moradores absurdos, só de ex-policiais contamos três. Alia-se também um alemão egresso do nazismo e um imigrante que cria o que parece ser um gigantesco animal feroz – que o orçamento do filme também não conseguiu bancar. Por muitas incongruências e diálogos que igualmente não chegam a lugar nenhum (porque a jovem policial quer ser transferida?), aliado a personagens que não são desenvolvidos, é que percebemos que A Força da Natureza parece um projeto que todos só pareciam querer cumprir o mais rápido possível, para então fugir dessa obrigação.
Casado com Kate Bosworth, o diretor não cansa de empregar a própria esposa e a atriz também se encontra aqui, ao menos na função de apoiadora do marido. Já Mel Gibson tem um dos momentos mais desnecessários e constrangedores da carreira, que nem está em momento tão baixo assim, mas que o filme se encarrega de denegrir; é com certeza um dos pontos que devem ser esquecidos de sua filmografia, e o ator se posiciona entre a má vontade e o descontentamento de estar ali com clareza. Ele é o maior afetado pelo roteiro e, tendo em vista que tecnicamente o filme igualmente não se realiza, a função de Gibson em cena parece tão despropositada quanto a do furacão.
Numa analogia ao carnaval carioca, A Força da Natureza se assemelha a um enredo de escola de samba pensado por Joãosinho Trinta para a Beija-Flor, mas que foi realizado por uma escola do grupo de acesso C – faltou o dinheiro, e na ausência dele, todo o resto também pulou fora por motivos absolutamente compreensíveis: o empenho, o envolvimento, o pique, a animação, por fim ficou só a ideia. E só ideia é pouco para um projeto que queria ser grande.
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