- Gênero: Ficção
- Direção: Francis Vogner Dos Reis
- Roteiro: Francis Vogner Dos Reis, Cassio de Oliveira
- Elenco: Carolina Castanho, Glauber Amaral, Carlos Escher, Talita Araujo, Maria Leite, Martha Guijarro, Carlos Francisco, Renan Rovida
- Duração: 30 minutos
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Vivemos um tempo de assombrações no país, onde as conquistas alcançadas na primeira década do novo milênio vêm sendo sumariamente perdidas, quase diariamente, e os espaços de convivência, de trabalho, de afeto, se transformam em peças de alegoria fantasmagórica por onde olhamos. O cinema entendeu isso muito rápido e responde ao nosso momento com ambiências de gênero, com transformações sociais que se confundem com mutações diretas – de corpos, de ideias, de transmissão estética, entre o naturalismo e a fantasia. A Máquina Infernal é suculento de análise, e a consciência do lugar ambicionado é forte.
Francis Vogner dos Reis já produziu, roteirizou, atuou e ainda bate ponto na crítica, e é fácil perceber como o projeto que estava na cabeça dele aqui se materializou inteiro enquanto obra de ficção no resultado final. O filme compreende um lugar de discussão atual, tanto político quanto na arte, e apresenta seus avatares em um misto de revolta, depressão, passividade e anseio por um avanço estético – isso é, como se diz, o atual sumo desse suco chamado Brasil. Que essas efervescências coletivas sintomatizem um estado de delírio fantástico, e descambe para um crescente simbólico que cruze Cinema e Realidade, é o resultado certeiro da produção.
Nesse sentido, Francis têm uma sucessão de acertos em mãos, porque suas intenções não apenas são apresentadas como também alcançadas com vigor. O espaço cênico da fábrica nunca é filmado com uma intencionalidade diferente que não a do mistério e da suspeita, criando uma espécie de cenário díptico, entre a tragédia empregatícia do país e um castelo em constante estado de fantasmagoria. De suas paredes saem figuras que, muitas vezes, só querem expressar sua sexualidade; de suas máquinas, emanam sons que se revezam entre climáticos e sofridos, com seu autor colocando pessoas e motores no mesmo lugar, entre a carência e o desejo.
Em parcos 30 minutos, o filme consegue agregar elementos de análise social e cinematográfica que longas com o triplo do tempo nem esbarram. A manutenção da libido em tempos de escuridão, o descontrole emocional diante da tragédia iminente, e a absorção de tudo isso pelo horror é uma seara que a produção compreende e destrincha quase que inteiramente no campo imagético, com a adição de diálogos que até poderiam ser ainda mais suprimidos, tendo em vista o alcance do material pictórico em cena. Tudo está explícito em cada construção de plano, que não obedece regras ou padrões da vigência atual do nosso cinema; são duas vias andando juntas, a do humanismo político e sua posterior denúncia e a da fantasia alucinatória que abre espaço para novos afluentes de discussão, em sua mixagem.
A luz combinada por dois titãs, Alice Andrade Drummond e Bruno Risas, cria o clima exato para contar essa história, de um Brasil que se perde em meio a monstros que podem estar lá fora, mas não podemos deixar nos perder entre. Francis concebe com delicadeza e assertividade, reconhecendo um Carpenter aqui e um Cronenberg ali, mas tendo a compreensão exata de sua obra particular cheia de refinamento. Um daqueles casos onde há prazer pra onde se olha, mas cuja mesa de debate não faltou; um filme sobre aceitar ou não a existência do sonho, para descobrir em qual lugar deveremos continuar.
Um grande momento
O espelho reflete a dança