- Gênero: Policial
- Direção: Maurício Eça
- Roteiro: Ilana Casoy, Raphael Montes
- Elenco: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Allan Souza Lima, Bárbara Colen, Che Moais, Augusto Madeira, Débora Duboc, Rodrigo Fernandes, Arthur Kohl, Kauan Ceglio
- Duração: 93 minutos
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Não há sombra de dúvida que A Menina que Matou os Pais: A Confissão seja melhor que o duo de filmes lançados há dois anos atrás, um projeto interessante que poderia ter dado muito certo ou muito errado. Contar os bastidores de um crime badalado a partir do ponto de vista discrepante de dois de seus autores, com a narrativa convergindo para as diferenças de discurso, tinha uma saída muito bem cuidada. Mas o ponto de partida do projeto não estava preparado para uma direção que não convencia no que qualquer que fosse a entonação dada. Isso só torna a apreciação do filme novo ainda mais surpreendente, tendo em vista que a equipe é a mesma, mas que todos parecem mais à vontade em suas funções de set.
Com os adiamentos de estreias de Hsu Chien, Maurício Eça acabou roubando dele a vaga de diretor com o maior número de lançamentos do ano – foram três, esse e mais Vai Ter Troco e Barraco de Família. Em 2024, essa vaga será disputada também por Bruno Barreto, que tem quatro filmes prontos. Eça já tem mais três filmes, além de ser o diretor dos originais e dos sucessos da franquia Carrossel. Quero dizer com isso que não falta experiência a ele, mas lhe faltava conhecimento para construir um ‘thriller’, ou aprimoramento; pronto, acho que um caminho foi encontrado em A Menina que Matou os Pais: A Confissão. O apuro não é exatamente estético ou plástico, mas da diagramação do ritmo, da tradição do gênero em nos deixar ansioso e refém de uma narrativa. E isso vindo de um mote já traçado pelo espectador, já conhecido em seu final, é ainda mais complexo de realizar.
As baixas expectativas trazidas pelos originais A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais também serviram para colocar no filme novo uma outra ordem de recepção. Nesse sentido, o trabalho de Tony Tiger na montagem é preponderante para que o filme encontre um trilho azeitado. Não há um momento de folga na produção, tendo em vista que os personagens já foram apresentados anteriormente, e todo o novo elenco em cena parte da perspectiva da investigação do crime. A Menina que Matou os Pais: A Confissão não precisa de mais um meandro dramático que envolva os eventos, ou que traduza a personalidade de cada tipo em cena. Tudo aqui é ação e reação, tudo é foco e condução; é a estrutura afunilada que permite ao filme acompanhar seu escalar de eventos com interesse e afinco.
O roteiro, mais uma vez a cargo de Ilana Casoy e Raphael Montes, também se livrou de amarras necessárias ao projeto, e consegue agora criar com a liberdade que uma “biografia” não consegue dar. Especificamente o grupo de policiais envolvidos no caso dão ao projeto não apenas uma sensação de imprevisibilidade que seria impossível alcançar, como também um refresco ao eixo da trama. Esse é o núcleo de A Menina que Matou os Pais: A Confissão que une o espectador ao que está sendo contado, já que agora não temos mais apenas a visão de tipos amorais no protagonismo. Não simplesmente por uma questão humana, mas ao olhar para tais novos personagens, o espectador consegue se identificar e querer explorar os acontecimentos que ele já conhece.
O elenco que foi cooptado para estar nesses lugares não poderia ser melhor. Bárbara Colen (de Bacurau) está excelente como a investigadora chefe do caso, com postura adequada, e trabalhando num crescendo de tensão como a trama pede. Assim como ela, Che Moais vem do sucesso Vai na Fé com um personagem com o mesmo nome que aqui, e mostra que merece mais espaço. Rodrigo Fernandes e Arthur Kohl estão igualmente intensos e servindo como coro especial ao grupo, e toda essa equipe eleva as sequências de acareação, que estão entre as mais bem conduzidas do filme. Do grupo anterior, merece acréscimo de elogios Allan Souza Lima e Augusto Madeira, que emocionam de verdade com suas entregas, e reforçam o valor de que A Menina que Matou os Pais: A Confissão é um avanço de experiência.
O que coloca o filme em lençóis complexos é o que ele faz com o projeto original. Os dois filmes anteriores jogava a dubiedade de um lado para o outro, e ainda que fosse sua única moeda ofertada ao espectador, era uma ideia de desenvolvimento interessante. A Menina que Matou os Pais: A Confissão acaba com a necessidade de existência dos filmes anteriores, já que agora nada mais é ambíguo, tudo está às claras. Cresce o filme, e morrem de vez as tentativas anteriores de contar o caso de Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos. Na dúvida entre os três, fique apenas com esse, a ideia que mostrou o amadurecimento do projeto como um todo.
Um grande momento
“onde foi que erramos?”