A Qualquer Custo

(Hell or High Water, EUA, 2016)
Ação
Direção: David Mackenzie
Elenco: Ben Foster, Chris Pine, Dale Dickey, Jeff Bridges, Gil Birmingham
Roteiro: Taylor Sheridan
Duração: 102 min.
Nota: 9

A Qualquer Custo é um filme fora do tempo. Refletindo a onda reacionária que assola o mundo, e também os Estados Unidos, o filme traz o passado à tela e dá aos acontecimentos um verniz antigo, ultrapassado.

Em um lugar que parece ter parado no tempo, não por acaso o Texas, dois irmãos saem roubando agências de um único banco. Com prazo e valor pré-estipulados, as quantias roubadas são baixas e as ações acontecem sempre pela manhã.

O diretor irlandês David Mackenzie (Sentidos do Amor) e o roteirista Taylor Sheridan (Sicario) vão buscar no western, tradicional gênero estadunidense, a ambientação para sua história. Seguir a estrutura e até alguns clichês do gênero é mais um meio de buscar esse jogo temporal que domina o filme.

Nessa mescla entre passado e presente, estão os que partem para o crime por falta de escolha, o xerife que os persegue, as relações de dominação e os piores efeitos do capitalismo. Isso em um lugar onde homens podem ter e têm seus revólveres para atirar quando acharem que devem; piadas racistas são feitas sem nenhum pudor, e não é preciso fazer muita coisa além de reafirmar a própria macheza.

O ambiente é dominado por longas estradas vazias, muito deserto ao redor, com grandes distâncias a serem percorridas e enquadramentos que não se cansam de expor sempre um horizonte distante. As cores predominantes vão do bege ao o marrom, e realçam a sensação de antiguidade e apego à terra.

E, por trás de tudo, quem movimenta o filme é mesmo o direito à propriedade, o ter acima do ser. A questão vai além do particular e da trama principal, trazendo a territorialidade – em tempos de Trump mais atual do que nunca – também à cena. A arrogância dos estadunidenses, naquelas terras tomadas à força dos mexicanos e que viram muito sangue indígena rolar, está bem representada na dupla de coadjuvantes e em sua relação.

Com as questões bem trabalhadas, tanto o roteirista quanto o diretor elaboram um jogo de empatia e vingança que desafiam a ética de quem assiste ao filme. Há uma espécie de conivência, tolerância e até simpatia com o que acontece, uma vez que se reconhece um sistema excludente e viciado.

Muito pela aura criada por todo esse jogo de expor a atual busca por um passado nocivo, involuído e intolerante. Muito pelos inspirados diálogos de Sheridan, verdadeiros duelos verbais que conseguem expor todas as feridas. A última passagem, por exemplo, é de uma incisividade, de uma crueza, impressionante. São palavras que trazem em si toda a tensão reacionária e a incompatibilidade com um futuro diferente.

E, além de toda qualidade, ainda tem Jeff Bridges (Bravura Indômita), mais uma vez vivendo um xerife; Ben Foster (Inferno), como o irmão esquentado e amoral, e Chris Pine (Star Trek), como a parte cerebral, mas presa àquela realidade. Todos bem conscientes daquilo que fazem e integrados à história que contam.

A Qualquer Custo vai além do que se pode enxergar superficialmente, algo como a história de uma boa parte dos Estados Unidos e do resto do mundo que os venera, e, indo além, dessa desumanidade tão característica dos dias atuais. Desses que fazem a gente ficar na cadeira sem piscar, esperando os próximos acontecimentos.

Um Grande Momento:
Conversa na varanda.

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