- Gênero: Drama
- Direção: Akinola Davies Jr.
- Roteiro: Akinola Davies Jr., Wale Davies
- Elenco: Ṣọpẹ́ Dìrísù, Chibuike Marvellous Egbo, Godwin Egbo
- Duração: 90 minutos
-
Veja online:
O crescente de um campo de batalha que nem se imaginava como tal, A Sombra do meu Pai é uma obra que nasce com um propósito, e isso não é uma classificação bonita e potente para fazer sentido enquanto mensagem ou moral da história. Essa afirmação tem a ver com o contexto de ritmo e desenho estrutural que o filme coloca em sua pesquisa de linguagem, partindo de uma apresentação bucólica para expandir suas ideias rumo a uma explosão intensa de verdade e conhecimento, e, mais uma vez, isso não é dito de maneira professoral, mas do descortinar-se para uma nova categorização que o filme faz a si mesmo, caminhando de maneira inesperada até um novo gênero surgir e se fazer preponderante.
O diretor Akinola Davies Jr. estreia em longas com um estudo profundo de um país em transformação, estamos falando da Nigéria de 30 anos atrás, que explodiu em conflitos após uma eleição em 1993. Essa mutação e amadurecimento, em um Estado, soa violenta e caótica como o crescimento de uma criança para uma adolescência onde não apenas os valores estão mudando, como representa, naquele lugar específico, uma nova configuração de luta. Atravessar o medo do fim da infância sem esteio emocional pode ir além do traumático, como já vimos muitas vezes. A base de A Sombra do meu Pai é autobiográfica, e seu autor aproveita sua obra para reler um campo pessoal de mágoa, reconstruindo os papéis de paternidade e maternidade, no cinema e na sua própria vida.
Ao construir uma visão mítica de uma mulher representada como a segurança e a paz que não se encontra no meio do caos, e um homem que, apesar dos erros, representava a fagulha de liderança que uma criança precisa em determinado momento de representação, o filme não diminui seus problemas, mas os reverbera de maneira mais corajosa. São breves uma hora e meia de projeção para dar conta de um arsenal de sentimentos que o diretor não tenta camuflar, mas que não pode atravancar também sua costura cinematográfica. E ele lida de maneira exímia com essa dualidade, entre uma espécie de expurgação da própria realidade, para uma moldura cinematográfica que ultrapasse a obviedade, com essa evolução do roteiro e suas novas denominações ao longo da narrativa.
Talvez A Sombra do meu Pai peque por um excesso de releituras imagéticas, onde a referência mais óbvia seja Moonlight, um dos momentos icônicos do vencedor do Oscar aqui reproduzido quase quadro a quadro. De tão evidente, é provável que seja mesmo uma homenagem sublinhada, mas não deixa de produzir algum mal estar que um filme de emoções tão sinceras precise deixar claro que o passado de quem já realizou obras sobre a negritude estejam aqui representadas. Estamos diante de um lugar cinematográfico que não precisa de submissão, principalmente se oriunda de um filme consagrado e de território estadunidense; Akinola é muito maior do que acredita, provavelmente.
Além disso, o filme consegue ultrapassar sua própria cadência sempre em seu próprio benefício, quando os registros vão se acentuando, na tensão e na evolução rumo a um cinema mais direto. É quando o filme se mostra ainda superior, porque consegue equalizar essas leituras de situação de maneira muito acertada. Em um só tempo, A Sombra do meu Pai consegue emular um cinema mais ralentado, de poucas concessões de ritmo, até chegar ao seu propósito frontal, que é de também realizar um cinema político de alta voltagem. Levado por um trio de atores que entregam a medida certa pedida, saindo de um lugar mais natural até chegar ao espaço clássico de adrenalina, essa é uma estreia na direção bastante corajosa em se propor um espaço onde orbitar em multiplicidade.
Um grande momento
Leite condensado


