- Gênero: Drama
- Direção: Joachim Lafosse
- Roteiro: Joachim Lafosse
- Elenco: Eye Haïdara, Leonis Pinero Müller, Teodor Pinero Müller, Jules Waring
- Duração: 94 minutos
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Não há gritos em Seis Dias Naquela Primavera, mas há algo mais difícil de suportar: o silêncio que toma conta de tudo, uma espécie de contenção que dita cada gesto naquela casa de praia no sul da França. Mãe e filhos viajam para uns dias de férias, mas o que deveria ser sossego, diversão e reencontro se torna angústia e vigilância. Mais uma vez, Joachim Lafosse filma o que há de incômodo nas famílias; o que continua, mesmo quando ninguém mais sabe o que dizer.
Alice (Eye Haïdara) carrega uma inquietação nunca verbalizada. Diz aos filhos que quer apenas descansar, mas esconde o namorado, esconde o lugar, esconde até o rosto quando percebe ser observada. Ela ama, mas sem confiar; protege, mas mantém distância. Como tantas mães, acredita estar cuidando enquanto afasta. Seus filhos, adolescentes demais para compreender e maduros demais para aceitar, reagem quebrando regras.
Essa tensão – de aproximação e recuo – é onde Lafosse trabalha melhor. As refeições em silêncio, os olhares longos, as frases interrompidas criam uma atmosfera constante de ameaça, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer. Mas o desastre nunca vem. O verdadeiro desconforto é outro: perceber que algumas famílias convivem sustentadas por uma frágil negociação entre culpa e afeto. Alice briga com os filhos por atitudes deles que espelham as dela, e sua vida segue sendo um segredo contínuo.
Jules (Jules Waring), o namorado, poderia ser um ponto de apoio, mas é mais um vetor de instabilidade. Ele os conhece, os observa, mas não pertence. Está dentro e fora ao mesmo tempo, trazendo uma intimidade que não lhe foi concedida. É o corpo estranho que revela a possibilidade de conexões, aiinda que ninguém saibe como lidar com elas.
Lafosse não cria explosões nem reviravoltas, mas expõe abismos. À medida que os dias passam, o tempo parece se alongar como um verão ansioso que não termina. As crianças não pedem explicações e a mãe não oferece respostas. Tudo fica suspenso. E é aí que o filme se arrisca: talvez demais. Há momentos em que o ciclo de silêncios se repete sem expandir a ferida, e o peso emocional começa a se tornar quase inerte. A espera é o método, mas também a armadilha.
Menos pessimista do que o habitual, Seis Dias Naquela Primavera permanece na lembrança porque, como toda obra assinada por Lafosse, recusa consolo. É um filme sobre o intervalo, entre pais e filhos, entre passado e futuro, entre o que se sente e o que jamais se diz. Lafosse filma a família como território incerto: nada se move, até que o chão cede um milímetro. E é nesse milímetro que tudo precisa se rearrajar.
Um grande momento
Depois da piscina


