- Gênero: Suspense, Policial
- Direção: Adam Cooper
- Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage
- Elenco: Russell Crowe, Karen Gillan, Marton Csokas, Tommy Flanagan, Harry Greenwood, Thomas M. Wright, Pacharo Mzembe, Lynn Gilmartin
- Duração: 105 minutos
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Ninguém poderia imaginar que, ao completar 60 anos e vivendo um período completamente diferente do que aconteceu em sua carreira entre 1995 e 2015, Russell Crowe se tornaria o astro com a maior quantidade de filmes lançados em 2024. A Teia é o segundo título, após Zona de Risco, e nos próximos meses teremos O Exorcismo e Kraven, todos com seu nome no lugar mais alto dos créditos – ou quase. Não chega a ser ressurgimento, porque ele nunca deixou de estar em voga, mas o lugar que ele conquistou entre Rápida e Mortal e Dois Caras Legais, parece ter ido embora, ainda que momentaneamente. Foram três indicações consecutivas ao Oscar, a vitória por Gladiador, e uma quantidade exorbitante de títulos relevantes ininterruptos, onde seu nome parecia sinônimo do que deveria ser visto. A série de más escolhas na carreira se transformou em uma série de fracassos, e agora ou ele não tem o que escolher, ou são esses os roteiros que chegam – tudo está interligado, no entanto.
A Teia é a estreia na direção de Adam Cooper, roteirista de uma série de filmes ruins e aleatórios, que vão de No Pique de Nova York a Assassin’s Creed. Esse não é um bom prognóstico, definitivamente, mas o resultado é bem mais digno do poderíamos supor, e um espaço interessante para Crowe desenvolver seu trabalho. Ele vive um ex-detetive policial que foi afastado após um acidente de carro, e que acabou de sofrer uma cirurgia inovadora que promete retroceder um quadro de Alzheimer. Essa base permite que o filme apresente sua narrativa algumas vezes sem parecer estupidez, e caminhe em busca de respostas para que a trama seja compreendida não apenas pelo espectador, como também dividir algumas questões com o protagonista – isso é positivo para o filme.
Não podemos dizer que não existam tentativas no que é apresentado, tanto esteticamente quanto narrativamente. O trabalho do Cooper diretor em A Teia acaba sendo mais instigante que o do roteirista, o empenho é mais facilmente notado. Temos um protagonista cuja memória está se reconectando, e isso é resolvido com a ampliação gradativa do campo de visão do personagem e que é representado pela fotografia e as decisões de mise-en-scene. O resultado, se não é um prodígio da construção, ao menos trabalha com o turvo, com as câmeras olho de peixe, e vai reestruturando a imagem, e os planos vão sendo ocupados gradativamente. São ideias que mostram uma vontade do diretor em ter uma voz, por mais modesta que seja.
No quadro do roteiro, o que temos em A Teia é uma tentativa de atualização do noir, ou nem isso. Talvez seja como se o projeto de um noir de 1949 fosse rodado somente hoje, com os recursos e as atualizações necessárias, mas com todos os signos e plots e tentativa de ambientação que ainda retenha suas características principais. O detetive deprimido, a ‘femme fatale’ que precisa de ajuda, o grande amigo que complementa a investigação, o crime do passado que volta a assombrar o presente. São gatilhos fáceis que contam ainda com um olhar soturno da realização, penumbras constantes, não é difícil de identificar. Isso, ao mesmo tempo que é interessante, também cria no filme uma blindagem de tratamento, que não se propõe a caminhar além disso.
Ao protagonismo de Crowe, por exemplo, isso serve à perfeição. Seu personagem é um tipo que está sofrendo por conta de uma condição física, mas que precisa se recuperar o mais rápido possível porque a dúvida também o consome. E, talvez quanto mais souber, mais vontade de deixar de saber ele tenha, como é de costume em produções assim. Isso permite ao ator encontrar camadas bem interessantes, até porque talento continua não lhe faltando, ainda que as pessoas associem erradamente suas escolhas ao que ele entrega. A Teia mostra que, se não são os projetos mais brilhantes que estão batendo à sua porta, ao menos o grande ator que já nos encantou não se desgastou em nada, ainda provendo um trabalho de qualidade indiscutível.
Diante do quadro de possibilidades que acercam um título com as peculiaridades que algo como A Teia carrega hoje, que costumam ser produções exclusivamente de streaming, não fico totalmente insatisfeito com o resultado apresentado. Trata-se, com seus problemas de ritmo e com os clichês dominando o projeto em todas as esferas, um passatempo honesto e com atores decentes, no geral. Convence o espectador a acompanhar os resultados das conversas com interesse do início ao fim, e garante a cinefilia um resultado satisfatório. Nada que mude nosso estado de espírito, mas um ator como Crowe ainda faz muita falta em título, e a produção aqui deixa claro como ele é necessário.
Um grande momento
A solução do mistério