(The Vast of Night, EUA, 2020)
“Você está entrando no mundo do clandestino e do esquecido, uma fresta entre os canais, o museu secreto da humanidade, a biblioteca particular das sombras, tudo acontecendo num palco forjado pelo mistério e encontrado apenas numa frequência entre lógica e mito”. Está é a abertura de Teatro Paradoxo, o programa televisivo que apresenta a história de A Vastidão da Noite.
Se há de pronto uma óbvia referência ao seriado Além da Imaginação, apresentado em uma velha televisão de tubo e apresentando a imagem envelhecida dos anos 1950, o filme do estreante Andrew Patterson faz questão de encontrar sua inovação na construção estética. Para isso, vai dando cor ao esmaecido de maneira gradual e aposta em planos complexos. São vários planos-sequência elaborados que acompanham os personagens em meio ao cenário vivo e inquieto.
Neste primeiro momento, a apresentação do radialista Everett (Jack Horowitz) e da telefonista Fay (Sierra McCormick) é composta pela interação com a pequena cidade do Novo México nesses movimentos de câmera e num diálogo tão frenético quanto. Enquanto ele é extrovertido e cheio de si, ela é mais tímida e curiosa, o que torna essa relação desigual, mas ainda assim curiosa. Juntos, ambos decidem descobrir o mistério por trás de uma frequência desconhecida e esse é o fio condutor da trama, escrita por Patterson (sob o pseudônimo de James Montague) e Craig W. Sanger.
A gramática visual do filme é, de longe, aquilo que ele tem de mais interessante. Se são os planos-sequências que apresentam os protagonistas, longos travellings exploram a cidade e os unem quando estão separados, a costura é toda pontuada por inserções da imagem televisiva que apresentou a história. Nessas pausas, a construção das imagens se transforma. O que marcava o espaço, numa agitada porém longa captura, torna-se rápido e picotado a medida em que o mistério vai se estabelecendo. É quando o diretor transforma seus planos, com muitos cortes, inversão de câmera e planos detalhe, compondo visualmente a ansiedade. Embora a quebra cause estranhamento, o sentido por trás dela é interessante.
Porém, há um complicador para A Vastidão da Noite, a atuação de Horowitz e o modo como o desfecho do mistério chega perto de se realizar não encontram o mesmo interesse despertado pelo visual. Longe disso, fazem com que o filme nunca se conecte realmente com quem o assiste. Ainda que haja boa intenção na alegoria da juventude deslocada e aprisionada a uma realidade, assim como na discreta tentativa de denúncia social, há um problema de andamento do roteiro que não consegue acompanhar toda a elaboração imaginada pelo diretor.
Sobra a A Vastidão da Noite o tom saudosista em que se apoia, principalmente para os adoradores da série de 1959; a interessante trilha musical de Erick Alexander e Jared Bulmer; o apego despertado pela personagem de McCormick, e a reconstrução de época em contraponto à estética marcada pela ousadia dos planos e da gramática visual. Mas, só isso já é motivo suficiente para que valha a pena conhecer.
Um Grande Momento:
O mergulho na televisão e no seriado Teatro Paradoxo.