(Cloud Atlas, ALE/EUA/HKG/SGP, 2012)
Direção: Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski
Elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, James D’Arcy, Xun Zhou, David Gyasi, Susan Sarandon, Hugh Grant
Roteiro: David Mitchell (romance), Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski
Duração: 172 min.
Nota: 5
Ler “Cloud Atlas” é viajar em muitas histórias e, ainda assim, perceber características que fazem parte de outras histórias que já lemos, vimos e conhecemos. Cada uma é contada de um jeito: em forma de diário, cartas a um amante, romance de suspense, entrevista. São seis núcleos distintos, mas que se misturam e se invadem. A estrutura narrativa é interrompida e retomada posteriormente. É uma experiência, no mínimo, divertida.
O que parecia inadaptável, pela complexidade da trama e pelo grande número de personagens e eventos, acabou chegado à telona graças ao esforço de três realizadores visionários: Lana e Andy Wachowski, responsáveis pela criação do universo de Matrix, e Tom Tykwer, diretor de filmes como Corra, Lola, Corra e Perfume – A História de um Assassino. Após transformar o livro em um roteiro coerente e com um orçamento de muitos milhões de dólares, o trio juntou uma equipe de atores renomados e tentou contar a sua história. Ou melhor, a sua história de muitas histórias.
O narrador principal é o velho Zachry. É ele quem diz que todas as pessoas e acontecimentos que veremos intercalados a seguir são de tempos distintos, mas fazem parte de uma única história. As narrativas acontecem no Século XIX nas Ilhas Pacíficas, nos anos 30 em Cambridge, nos anos 70 em San Francisco, nos dias atuais em Londres, no futuro em uma tecnológica e fria Nova Seul e em uma nova comunidade com cara de antiga muito depois de tudo.
Ao mesmo tempo, acompanhamos um jovem que entra em contato com os horrores da escravidão, uma jornalista prestes a descobrir as más intenções em um programa nuclear, um experiente editor que vê sua vida mudar depois da atitude impulsiva de um escritor, um jovem músico que quer se tornar conhecido por ter ajudado um velho compositor a voltar à ativa, uma atendente de lanchonete que descobre que o mundo é muito diferente do que ela imagina e um homem que tenta sobreviver aos ataques de canibais.
Todas as histórias têm seus personagens e, cada um deles, o seu papel social muito bem definido. Cada um a sua maneira e dentro de suas possibilidades vai tomar medidas que salvarão o futuro da espécie e da sociedade. As tentações e provações também estão representadas em cada núcleo e é talvez nesse cuidado engomadinho demais que o filme perca muito da atenção de seu público.
Embaladas em compartimentos tão perfeitamente definidos, as muitas idas e vindas e intercalações soam falsas demais para causar qualquer impacto. Um trabalho interessante de maquiagem, mas exagerado, também não ajuda, assim como a tentativa constante de demonstrar a ligação entre os protagonistas da história.
Com o distanciamento do público, o tédio se instala e a longa duração não só é percebida, como se torna o maior vilão do longa. E nada pior para um filme do que ele causar no público a ansiedade pelos créditos finais.
O elenco dedicado cai na mesma armadilha de tentar não permitir a confusão entre seus personagens (como se isso fosse possível) e exageram em trejeitos e sotaques. Sabendo que cada ator interpreta uma média de cinco personagens, não é difícil antecipar que o resultado fica também aborrecido. E olha que dentre os escalados estão nomes como Tom Hanks, Jim Sturgees, Halle Berry, Jim Broadbent, Doona Bae, Ben Whishaw, Hugh Grant e Susan Sarandon.
O triste em A Viagem – esse nome que a distribuidora brasileira escolheu também não ajuda – é que o filme teve muita dedicação, de todos os envolvidos, e não é uma história que não tenha atrativos. Ela tem tensão, bons momentos e ganha muitos pontos ao repetir histórias do inconsciente coletivo sobre escolhidos, salvação e resistência, assim como trabalha bem com a repetição de atos e julgamentos humanos, mas o projeto megalomaníaco e a incontinência visual que já conhecemos dos irmãos Wachowski deixa o resultado pesado demais para ser digerido. Sem mudar tanto, talvez funcionasse como uma minissérie, mas, para uma única sessão de cinema, é muito.
E esse é um bom resumo do sentimento de quem sai da sala de projeção. Com boas intenções, o projeto acaba se perdendo em sua própria ambição e, cansativo, não passa mais do que uma impressão de que em outro formato talvez funcionasse melhor.
Um filme para se ver descansado e longe das salas vips, porque qualquer sono leve ou poltrona muito confortável pode fazer você perder muito do filme.
Um Grande Momento:
A sopa.
Links
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=zrYTqnfzGJo[/youtube]