- Gênero: Drama
- Direção: Laurynas Bareisa
- Roteiro: Laurynas Bareisa
- Elenco: Gelminė Glemžaitė, Agnė Kaktaitė, Paulius Markevičius, Giedrius Kiela, Herkus Sarapas, Olivija Eva Viliüné, Aldona Vilutyte, Julius Zalakevicius
- Duração: 88 minutos
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Afogamento Seco, de Laurynas Bareiša, chega como quem não quer nada e, quando você percebe, já está completamente envolvido e incomodado. Nada aqui é espetacular no sentido clássico, pelo contrário. O diretor trabalha na zona do quase, do gesto mínimo, do detalhe que chama atenção e é justamente aí que o filme se torna profundamente perturbador.
A história acompanha duas irmãs e suas famílias que se encontram para um fim de semana aparentemente banal, à beira de um lago. Há crianças, conversas atravessadas, pequenos incômodos e silêncios mal resolvidos. Tudo parece organizado em torno de uma ideia de normalidade nunca verdadeira. Desde o início, o filme se constrói a partir de fissuras, sem que haja conflitos declarados. O perigo não vem de fora, está no modo como essas pessoas ocupam o espaço, no que não conseguem dizer, na maneira como o tempo insiste em se repetir.
Bareiša estrutura o longa de forma fragmentada, retornando a momentos já vistos, reorganizando ações e deslocando pontos de vista. Não se trata de um jogo formal gratuito, pois a repetição funciona como método de investigação do trauma. Cada retorno muda levemente o sentido do que foi vivido antes, como se o filme estivesse tentando, obsessivamente, encontrar o ponto exato onde tudo desandou. E talvez esse ponto nunca exista de forma clara. O trauma, aqui, não é um evento isolado, é algo que vai tomando conta de tudo silenciosamente.
A água, elemento central do filme, nunca é apresentada como ameaça explícita. Ela está ali, calma, quase convidativa. O título já anuncia o paradoxo: afogar-se a seco. O perigo não precisa ser visível para ser letal. O que sufoca em Afogamento Seco é a incapacidade de elaborar o que aconteceu, de dar forma ao luto, de aceitar a falha. A tragédia não explode, se infiltra.
O trabalho com os atores é impressionante justamente pela contenção. Gelminė Glemžaitė, Agnė Kaktaitė, Paulius Markevičius e Giedrius Kiela atuam num registro controlado, onde a emoção não se expressa em catarse, mas em microgestos, olhares desviados e frases interrompidas. O filme exige atenção do espectador já que nada é sublinhado e muita coisa precisa ser percebida.
Há também uma dimensão profundamente moral no filme, mas sem qualquer traço de julgamento. O diretor não aponta culpados, quer observar o modo como adultos lidam mal com a ideia de responsabilidade, como tentam reorganizar o mundo depois de algo que não pode ser reparado. O retorno constante às mesmas cenas sugere menos uma tentativa de entendimento e mais uma impossibilidade de seguir adiante.
Cinema de inquietação, que confia no espectador e recusa qualquer conforto narrativo, Afogamento Seco é um filme sobre o peso do que não se resolve. Seco, preciso e desconcertante.
Um grande momento
Na estrada


