Crítica | Streaming e VoD

Agência do Amor

...aos pedaços

(Die Liebeskümmerer, ALE, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Shirel Peleg
  • Roteiro: Antonia Rothe-Liermann, Malte Welding
  • Elenco: Rosalie Thomass, Laurence Rupp, Cora Trube, Jerry Hoffmann, Denise M'Baye, Özgür Karadeniz, Jakob Schreier, Charleen Deetz, Arash Marandi
  • Duração: 93 minutos

Sim, a Netflix lançou no Valentine’s Day do mesmo ano duas comédias românticas com protagonistas jornalistas. Se Jogos de Amor trazia uma visão mais empreendedora da profissão, com uma visão de futuro e trabalho duro para conquistar seu espaço, aqui em Agência do Amor o profissional está imerso no cinismo – em relação ao seu trabalho, e também em como ele vê o mundo. Como trata-se de uma comédia romântica, isso se aplica igualmente ao estado que ele foi deixado após o último relacionamento. Próprio do homem, Karl não assume o quão despedaçado está, mas seus planos não são nada lisonjeiros em relação a quem ele vê como culpado pelo término. Parte daí a premissa do longa, mais uma deliciosa opção da semana. 

Assim como no já supracitado companheiro de plataforma, Agência do Amor também parte de um plano que dará errado para o protagonista, e como ele se colocará diante da besteira que está fazendo. É um esforço considerável para continuar progredindo com uma tentativa de difamação que faz cada vez menos sentido, levando em consideração a paixão que claramente irá arremessá-lo na direção da sua némesis. Simpático em sua abordagem romântico, o filme esbanja carisma entre todos do elenco, e a química entre um grupo de seis personagens é bastante evidente. Com uma ideia leve aplicada a um país que não tem tradição de se mostrar vulnerável em sua filmografia, o filme também é uma revisão acerca de nossas certezas, e isso é abordado em sua narrativa. 

O filme é uma produção alemã dirigida pela israense Shirel Peleg, uma cineasta ousada que em sua estreia também dirigiu uma comédia romântica protagonizada por um casal de lésbicas (Kiss me Kosher). Esse não é um título tão provocativo, mas ele propõe outro tipo de coragem, que é a de nos fazer simpatizar por um machista convicto, daqueles que não se acredita como tal. A tarefa árdua de Agência do Amor, a princípio, é nos convencer de que uma figura tão tóxica pode ser dobrado por alguém tão doce quanto a terapeuta Maria. Mérito tanto de Rosalie Thomass quanto de Laurence Rupp, que não apenas exploram uma química crescente entre seus personagens quanto nos faz acreditar na transformação dos sentimentos que os une. 

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Apesar de toda a simpatia envolvendo a produção, Agência do Amor não consegue deixar de apresentar problemas em seu roteiro. O filme apresenta um número significativo de personagens, alguns muito bons, como o melhor amigo de Karl, vivido por Jerry Hoffmann. Ele é um dos tantos tipos a passar pelo filme, mostrar serviço de muitas formas, e que o roteiro escrito a seis mãos não consegue dar conta. Ou trata mal e diminui suas muitas potencialidades, ou o resume e o que temos em tela é um borrão disforme. Um exemplo disso é Zolt, um dos pacientes da doutora Maria, cujo intérprete não consegue mostrar todo seu potencial, porque o roteiro não o coloca efetivamente em cena, mesmo que ao fim tenhamos sua dimensão. 

De repente, começamos a perceber que isso não está restrito aos personagens, mas também às ações do filme, que começam a soar truncadas ou resumidas. Como se tivesse sido encerrado com uma duração muito superior ao que se imaginava, e a edição tenha tomado as piores decisões possíveis, o trabalho em Agência do Amor fica comprometido por essa situação, onde nada do que é visto parece corresponder ao todo maior. Estamos então assistindo a algo que parece um compacto de uma versão mais completa, e que aqui nos deixa constantemente em estado de ausência. É uma pena que um projeto que prometia tanto, e que cumpre em muitas esferas, acabe soando como algo incompleto, com um misto de satisfação por parecer acima da média, e frustração pela auto sabotagem. 

Um grande momento

A primeira noite

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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