- Gênero: Suspense
- Criador: Megan Gallagher
- Canal: Peacock
- Elenco: Sarah Snook, Jake Lacy, Dakota Fanning, Sophia Lillis, Abby Elliott, Jay Ellis, Daniel Monks, Duke McCloud, Michael Peña, Tayden Jax Ryan
- Duração: 50 minutos
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Marissa Irvine parece ter alcançado o sucesso. Uma família estabelecida, uma casa grande e uma carreira consolidada. Logo na cena de abertura, o que parecia sólido se desfaz quando ela vai buscar o filho na casa de um coleguinha e descobre que ele não está lá. A câmera registra esse instante com a frieza de quem já espera a falha, e a mulher que deveria trazer tranquilidade ao mundo se encontra sozinha no centro de um furacão. Solitária porque se esperava que ela desse conta de tudo – da carreira, da maternidade e do lar – e agora também da exposição, da suspeita, do julgamento e da culpa.
O universo de All Her Fault, série criada por Megan Gallagher e inspirada no romance de Andrea Mara, retrata essa solidão com precisão. Marissa é a executiva, a mãe presente e a esposa que acredita que o controle pode funcionar. Quando ele falha, essa falha vira espetáculo, vira evidência. A rotina que ela tentou construir, o cuidado que assumiu, tudo se transforma em prova contra ela. A série chama atenção para o fato de que, para muitas mulheres, cuidar significa carregar o peso solo da responsabilidade e ainda ser julgada por qualquer coisa que aconteça.
Em cada episódio, a solidão se manifesta de formas diferentes e silenciosas, em uma narrativa que vai e volta no tempo. Enquanto os homens à volta mantêm as aparências, delegam o cuidado ou se ausentam, Marissa (e Jenny ou outras mulheres por aí) está no front da vigilância constante. A noite em que ela não está com o filho, o telefone que ela atende, a confiança que ela deposita, tudo vira possibilidade de negligência. All Her Fault não tenta romantizar essa vigilância. Mostra o desgaste, o olhar cansado que não admite descanso, a culpa como rotina. A presença dela é constante, mas a estrutura de apoio é frágil. O marido, os amigos, a comunidade, todos falham ou se omitem. Ela segue sozinha.
Visualmente, o trabalho acompanha esse isolamento. A casa aberta, os corredores que se alongam, o sorriso que se apaga antes da câmera cortar e um silêncio interrompido. Os episódios não vão para soluções fáceis, mas para a vivência do colapso, e, dentro dele, Marissa permanece tentando cuidar, tentando entender, tentando manter a calma. O público percebe que o problema não é só o sumiço do filho, é o que se quebra dentro e ao redor dela.
Há falhas. A série cede ao thriller convencional, se perde no tempo e no ritmo com a duplicidade da trama e as revelações, além do antagonista. Mas esses tropeços não anulam o que All Her Fault realiza. Ao focar na mãe cuidadora isolada, mostra que o crime maior talvez seja a expectativa de que o cuidado seja tarefa única e inviolável. E quando a rede que sustenta esse cuidado falha, a culpa recai sobre quem permaneceu na linha de frente.
O mundo exige que ela seja forte, ainda que vulnerável e invisível. E quando ela falha, ou quando o outro falha por ela, o custo não é dividido. A narrativa escolhe abrir essa ferida sem redenção ou castigo simples. Marissa vive o esfacelamento do que acreditava ser seguro.
Assistir a All Her Fault é encarar a solidão que mora no papel de mulher cuidadora no mundo atual. É ver que a expectativa de definir tudo, garantir tudo, proteger tudo, pode virar armadilha. E que a culpa não é apenas do gesto que não deu certo, mas do sistema que sempre exigiu que desse.
Melhor Episódio
T01E05: Episode #1.5


