Crítica | FestivalMostra SP

Aloys

(Aloys, SWI/FRA, 2016)
Drama
Direção: Tobias Nölle
Elenco: Georg Friedrich, Tilde von Overbeck, Kamil Krejcí, Yufei Li, Agnes Lampkin, Haroldo Simao
Roteiro: Tobias Nölle
Duração: 91 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A primeira cena de Aloys já deixa bem claro do que o filme vem tratar: o luto de seu personagem principal, que dá nome ao filme. O vazio que fica depois que alguém vai embora toma conta de todos os espaços que ele frequenta. Naturalmente tímido e recluso, a partir daquele momento, Aloys se percebe completamente sozinho no mundo.

O diretor novato Tobias Nölle (Heimatland), em seu primeiro longa-metragem, consegue construir aquela realidade interior do protagonista de forma muito eficiente, apesar de um tanto óbvia. A criação daquele universo e o ótimo trabalho do ator Georg Friedrich (Fausto) fazem com que o espectador se apegue ao personagem, compreenda seu momento e se prepare para o que vem a seguir.

A chegada de Vera, interpretada pela estreante Tilde von Overbeck, com sua insistência e toda a sua terra, vem para mudar completamente aquela realidade. A contradição entre os dois personagens é muito bem estabelecida. O esvaziado mundo de Aloys e o completamente preenchido mundo de Vera, em suas particularidades, dão sentido à relação estabelecida por ambos.

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Com uma brincadeira chamada de “telefone andante”, Nölle libera-se para colocar na tela tudo que sua cabeça possa imaginar e construir um universo fantástico, cheio de vida, cor e som, onde as coisas funcionam de maneira bem distante do que conhecemos.aloys_interno

 

Embora a troca de sentimento seja muito radical, passando do luto à paixão, o diretor faz com que se esteja esperando para elas desde as primeiras cenas, afinal de contas, o dar corpo ao sentimento negativo do protagonista – algo muito pouco palpável – e criar um mundo desabitado já é algo fantasioso. O que se altera é o que está por trás disso.

É no intangível que o filme se firma. No modo como os dois personagens se conectam, como eles interagem à distância e como fogem daquilo que os prende e faz falta. Há ainda um cuidado muito grande com sons, cores e certos elementos simbólicos. O filme ainda tem pequenos detalhes bem interessantes, como as filmagens aleatórias ou a cortina que consegue isolar Aloys do mundo que o cerca completamente.

O roteiro, escrito também pelo diretor, tem vários bons diálogos e frases. Em meio a alucinações e sentimentos, frases como “é como uma festa que você vê pela janela, mas não é convidado” ou “você não sabe, porque você não teve uma vida que pudesse ser tirada” ganham muita força, com o texto completando a imagem e vice-versa.

Embora tenha muita coisa interessante e consiga envolver bem o espectador, o filme repete-se algumas vezes, deixando a impressão de que poderia ser mais ágil do que é, mas nada que comprometa gravemente o resultado final.

Uma fábula sobre luto e reconstrução.

Um Grande Momento:
O final.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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