Muitos elementos se intercalam em Foreigner, um conto macabro de solidão e pertencimento que se encaixa bem na adolescência e também no sentimento de deslocamento de imigrantes em novas sociedades. O primeiro longa de Ava Maria Safai conta a história de Yasi, uma adolescente iraniana que acabou de se mudar para o Canadá e não quer se sentir inadequada. Ela passa os dias assistindo a uma mesma sitcom para aprimorar o seu inglês e sonha em ter o visual do grupo que frequenta.
Como não poderia deixar de ser, a escola surge como o principal elemento de terror. A tensão surge na sua apresentação opressora diante de uma imagem que engole a protagonista ou se revela diante dela sem que vejamos prontamente suas reações. No melhor estilo bubblegum horror, há cores e a agitação do ensino médio. A angústia que se estabelece nesse primeiro contato chega brincando com elementos referenciais, como a sombra da professora na parede ou as fiéis escudeiras da queen bee, quase cópias adolescentes das gêmeas de O Iluminado ou versões em carne e osso da franquia Sorria.
A diretora demonstra habilidade ao transitar por suas escolhas, apesar de algumas obviedades na metaforização de questões como aceitação, deslocamento ou até mesmo aquela batida heriditariedade de transtornos, embora aqui existam outras camadas temáticas a serem exploradas. A possibilidade mítica do demônio-gênio Zār é um exemplo disso. Há ainda um bom uso dos cortes secos, elipses e sobreposições, além de criações visuais interessantes para a representação de sentimentos. Mesmo que não totalmente inéditas, elas encontram um quê de originalidade.
Apesar de ser mais um longa que segue a onda recente de títulos de horror que têm o luto como tema, isso aparece como mais um elemento, integrando a algo mais complexo. Há aqui outras questões que atordoam. Entre surtos e delírios paranormais – ou não – estão eventos reais de fácil identificação, como a adolescência, o bullying, a xenofobia ou o constrangimento supremo causado pelo pai e a avó diante dos colegas. Tudo isso aproxima Foreigner por um outro caminho, e geram uma conexão que transcende aquela primária, causada pelo medo. Elementos que se encontram de maneira eficiente em um ambiente que, apesar de apavorante, nem sempre faz questão de ser sombrio. Talvez por isso seja interessante.
Um grande momento
O vazio