Crítica | Festival

Haunted Mountains: The Yellow Taboo

No coração enevoado das montanhas, um laço de amor se transforma em prisão temporal. Chia Ming e Yu Hsin partem para uma trilha normal. Ele decide pedi-la em casamento no passeio, mais não contava que o local fosse amaldiçoado. O longa é uma livre adaptação de uma famosa lenda urbana taiwanesa da atualidade, o gremlin da montanha, que, vestindo capa amarela e chapéu de bambu, persegue, enlouquece e leva suas vítimas à morte. Agora, Chia Ming terá reviver a morte da amada repetidas vezes, preso num loop temporal que parece alimentar uma força ancestral.

Apesar do mito, Haunted Mountains não se afasta do que já conhecemos sobre terror. A repetição de jump scares, a nostalgia pela lenda e o uso do cenário montanhoso trazem uma familiaridade que dificilmente surpreende. O filme revisita normas conhecidos de terror, como o amor que dá lugar ao peso do luto, o loop temporal como punição, o espírito vingativo, e não ousa reinventar a forma.

A narrativa tenta costurar uma fábula emocional, onde o que começa como amor termina em luto perene. Ao repetir a morte de Yu Hsin, o filme sugere que alguns traumas não podem ser apagados, apenas revividos. É um recurso poético — e por vezes angustiante —, mas que funciona apenas como variação do déjà-vu genérico, sem subverter o que já se viu em tantos outros filmes.

Visualmente, Haunted Mountains habita o território do horror folclórico clássico, com neblina espessa, silhuetas invertidas e silêncios pesados. A criatura amarelada surge e some, evocando a imagens familiares, mas falta consistência na construção da tensão visual. O loop temporal perde impacto quando não há novos ruídos. E o ritmo, por sua vez, cansa. Por mais belas que sejam as composições, a repetição acaba virando eco.

Mesmo com uma mitologia local tão rica, ou com uma lenda de tantas possibilidades, o filme não consegue dialogar com outras dimensões além do medo. Ele fala sobre amor repetido e trauma que beira a obsessão, mas se esquece que o terror pode nascer da resistência à repetição. Fragmentos emocionais podem até surgir, mas logo se dissolvem no convencional.

Como uma história contada sem empolgação, Haunted Mountains: The Yellow Taboo não inventa, recicla. Ainda que busque um mito e explore a dor do amor interrompido, o filme se acomoda no repertório batido e bastante trilhado do terror. O cenário fantástico está ali, mas quem vive o loop não foge dele, nem mesmo o próprio filme. Que repete, muitas vezes, o que já fora repetido outras tantas antes dele.

Um grande momento
A primeira aparição do gremlin

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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