Crítica | Streaming e VoD

As Semanas Mágicas

Filme-conforto

(Oei, ik groei!, HOL, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Appie Boudellah, Aram van de Rest
  • Roteiro: Appie Boudellah, Mustafa Boudellah, Maikel Nijnuis
  • Elenco: Sallie Harmsen, Soy Kroon, Sarah Chronis, Katja Schuurman, Louis Talpe, Yolanthe Cabau, Iliass Ojja
  • Duração: 98 minutos

Depois de uma produção protocolar da Netflix que te diverte mas não mexe com você integralmente (Seja Você Mesma), nada como uma outra produção protocolar da Netflix, mas que dessa vez consegue acessar uns gatilhos que você nem sabia que tinha. Estreando ambas no mesmo dia, As Semanas Mágicas é o filme que você nem sabia que precisava assistir, mas que assistiu mesmo assim – e saiu plenamente recompensado. Mais uma vez, não é algo que vá revirar sua lista de melhores do ano de ponta-cabeça, mas aqui temos um exemplar de filme-conforto, daquelas delícias que precisamos assistir de vez em quando para que a fé na humanidade seja restaurada. Repito, fé na humanidade, o Cinema aqui tem pouco de intromissão. 

Há 10 anos estreava um outro filme nos cinemas que era igualmente baseado em um livro que tentava acalmar mães experientes, de primeira viagem e mães-pais; O Que Esperar quando Você está Esperando fez sucesso, colocou Cameron Diaz, Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro às voltas com inúmeras maternidades diferentes e parece uma bússola a esse. As Semanas Mágicas parece a resposta holandesas a livro e filme americanos, e o caminho de ambos é bem parecido. São historinhas (no caso aqui, somente três) quase desenvolvidas como esquetes a respeito de maternidades e conceitos de sociedade bem diferentes entre si. Elas se comunicam porque suas mães são amigas, mas o que vemos são pessoas diferentes lidando de maneiras distintas com realidades diferentes, mas todas problemáticas em muitos aspectos. 

As Semanas Mágicas
Max Maloney / Netflix

Temos uma família metade holandesa e metade marroquina, que precisa aprender a lidar com demandas diversas a respeito do crescimento de um bebê; temos pais de primeira viagem obcecados por controle e que precisam dar conta da realização profissional e da chegada do primeiro filho; e temos um casal de lésbicas na terceira gestação, que não podem mais ignorar o doador de sêmen, não por acaso o melhor amigo de uma delas. As Semanas Mágicas tem um roteiro muito bem amarradinho que não deixa nenhuma das histórias órfã de desenvolvimento, consegue apresentar cada conflito e também resolvê-los de maneira consciente e sem atropelos e ainda nutre um carinho verdadeiro por seus muitos personagens, todos com protagonismo momentâneo. 

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Mais uma vez, a dupla Appie Boudellah e Aram van de Rest não deixam espaço para uma visão feminina conseguir ter voz em seus trabalhos. Diferente de Que se Dane o Amor!, no entanto, aqui eles parecem ter acessado lugares de compreensão mais evidentes, onde o machismo parece menos posicionado. Ainda que exista uma história relacionada a uma babá bem antiquada, não deixa também ela de ser universal, e os homens parecem não ter conseguido superar esse mito ridículo. Tirando isso, As Semanas Mágicas provavelmente contou com alguma consultoria externa que tenha colocado seus autores em lugares menos agressivos quanto em suas comédias românticas anteriores. Ao mesmo tempo, mais uma vez eles precisam agradecer igualmente ao seu elenco. 

As Semanas Mágicas
Max Maloney / Netflix

Como dito, As Semanas Mágicas não elabora material imagético de grande carga evolutiva para os rumos da Sétima Arte, mas graças a simpatia generalizada, muito acaba contribuindo para que sua sessão seja das mais prazerosas. Se o elenco é todo acima da média, ao menos o trabalho de Sallie Harmsen merece ser destacado. Sua Anne é um poço de preocupações ininterruptas – com a bebê que acabou de nascer, com o trabalho em ascensão, com os cuidados com a pequena Mia que não podem ser esquecidos de maneira alguma. Ainda assim, ela precisa se realizar com o marido Barry, e não há espaço físico em sua agenda; a atriz resolve uma personagem padrão com muita elegância, e é com ela que ficamos ao fim da sessão. Da ala masculina, é Louis Talpe com seu Kaj o destaque, um pai que precisa provar suas qualidades e esconder muitos defeitos. 

Os mais emotivos (como eu) não conseguirão esconder a emoção com os rumos dos personagens – e a irritação para com o ser humano, que consegue errar mesmo sendo muito óbvio a coisa certa a ser feita – e, se não exigir muito, sairá de As Semanas Mágicas com a óbvia sensação de dever cumprido. Nem pra mais e nem pra menos, o lançamento da Netflix consegue divertir, emocionar, rir e chorar, e quem sabe até nos faça pensar em filhos… 

Um grande momento

A confusão durante a circuncisão

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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natalí
natalí
26/08/2023 12:49

O filme é muito bom exeto quando eles insistem que duas mães não podem criar os filhos sozinhas tendo sempre a necessidade de um pai. E insistem e querer comparar pai com doador que são duas coisas distintas.

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