Crítica | Streaming e VoD

A Fita Cassete

(Mixtape, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Valerie Weiss
  • Roteiro: Stacey Menear
  • Elenco: Julie Bowen, Jackson Rathbone, Nick Thune, Kiefer O'Reilly, Gemma Brooke Allen, Lydia Campbell, Audrey Hsieh, Anthony Timpano, Olga Petsa
  • Duração: 93 minutos

Parece haver algo de errado com ‘A Fita Cassete’, estreia de hoje da Netflix, porque deve ser uma de suas produções mais esteticamente modestas, e justo em uma seara (a produção teen) que é um de seus mais rentáveis retornos. Longas como a série ‘Para Todos os Garotos que já Amei‘, por exemplo, tem algum apelo estético, que aqui não é visto. Não sabemos se isso é proposital, mas o fato é que terminamos por nos acostumar com a imagem lavada e a falta de brilho generalizado, principalmente quando a produção resolve investir em sua mensagem; sim, é uma produção para adolescentes, lógico que tem uma lição a ser aprendida.

Dirigido por Valerie Weiss e escrito por Stacey Menear, trata-se de um longa para meninas jovens, especialmente, que poderiam se ver sem respostas na transição da adolescência e muitas vezes se viu sem resposta. Na crueza que Weiss impôs à produção, o que ficou na superfície é a narrativa acima de todas as coisas, com a ajuda de um elenco derretendo carisma por todos os lados. Mas nada funcionaria se não houvesse identificação com a temática, que é dura mas precisa ser assimilada. Quantas crianças se perceberam órfãs antes de sequer adquirir personalidade, e como você lida com as respostas necessárias nessa fase da vida?

A Fita Cassete
Jake Giles Netter/Netflix

Beverly só queria saber mais sobre os pais que se foram quando ela estava com 2 anos. Encontra a tal fita do título, com uma seleção musical da qual não se identifica, e entende como um sinal de que ela desvendou o mistério é uma mensagem cifrada. A partir daí, o filme ganha aquela conotação esperada na vibe “o mais importante da viagem é o caminho”, ou seja, não é necessariamente a descoberta da tal fita que fará a diferença, e sim o que a pequena aprenderá pelo caminho. Com doçura, o filme aborda ideias interessantes ao mesmo tempo em que repete clichês do gênero.

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Por exemplo, Beverly não fará uma, mas duas amigas, mesmo que uma delas seja do seu próprio colégio. O filme trata a personagem como uma estranha ao seu habitat natural e isso não faz muito sentido, ainda que tudo bem ela não ter nenhum amigo. Tem uns detalhes deliciosos, como ela sofrer bullying de um menino deficiente (“todo mundo pode ser um babaca”) ou ela fazer amizade com o dono da loja de discos, ou ainda o filme se passar em 1999, pré-bug do milênio. São situações que trazem algum colorido a um molho que todos nós já provamos antes.

A Fita Cassete
Jake Giles Netter/Netflix

O elenco é repleto de carisma, o trio de pequenas estrelas funciona muito bem juntos, e os dois adultos principais (Julie Bowen e Nick Thune) são muito representativos como bússolas narrativas, mas o roteiro não preenche de maneira convincente o universo de suas personagens, jogando coisas sem muito aproveitamento na tela. Porque a mãe de Ellen tem medo de Beverly? Porque a família de Nicky, interessantíssima, só tem basicamente uma cena? Porque o universo escolar do filme é tão mal aproveitado e suas impressões parecem tão vagas? O filme deliberadamente escolhe não situar muito bem muitas coisas da produção.

Isso é um problema maior quando ‘A Fita Cassete’ abre mão de tanta coisa em nome de sua narrativa, se pautando quase exclusivamente a ela. Apesar de tudo, é uma produção que, em sua modéstia ostensiva, acaba por mostrar valor à amizade, a uma relação simpática entre avó e filha, e entretém de maneira honesta. Mesmo que os buracos afastem o filme de um resultado mais positivo, a Netflix coloca no ar esse produto que funciona por 1 h e meia, e não te deixa com uma sensação muito amarga ao seu término.

Um grande momento
‘Better things’

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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