- Gênero: Fantasia
- Direção: James Cameron
- Roteiro: James Cameron, Rick Jaffa, Amanda Silver
- Duração: 197 minutos
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Por mais que suas narrativas não sejam as mais elaboradas, James Cameron sempre soube como transformar tecnologia em sensação. Em 2009 isso se confirma de maneira incontornável com a chegada às telas de Avatar. A grandiosidade de um mundo todo criado do zero – ainda que amparado em velhas histórias de colonização e dependente da trama belicista – abria espaço para muitas possibilidades, que não foram desperdiçadas, é lógico. A promessa é de uma franquia de cinco filmes, foi inaugurada com Caminho da Água e chega agora ao seu terceiro episódio com Fogo e Cinzas.
E vamos dizer, chega sem fôlego, marcando aquilo que seu primeiro filme trazia como tema. O desgaste que vem com a exploração de algo. Há até momentos em que a narrativa encontra um rumo. São pequenas passagens em que a história tenta se organizar e respirar, mas que são engolidas por uma construção que volta a funcionar como desculpa para a exposição da estética antes de qualquer coisa. Lampejos de uma história. Avatar: Fogo e Cinzas avança, recua, desliza, mas não tem uma continuidade, e o resultado é um longa que tropeça justamente naquilo que deveria sustentá-lo.
Essa irregularidade pesa porque vem acompanhada de reciclagens internas que já cansaram. Não é sobre o uso de arquétipos, que seguem vivos em milhares de outros filmes interessantes. É sobre a insistência da própria franquia em repetir o mesmo arco, a mesma perseguição, o mesmo antagonismo pessoal travestido de épico. O “vamos destruir o traidor”, o “líder que unirá todos os povos”, “precisamos extrair até a última gota da matéria preciosa” já foram explorados dentro do próprio universo de Pandora, e voltar aos mesmos pontos apenas desgastam, cansam, e fazem o todo parece preso a um ciclo que ele mesmo criou e que agora só ecoa vazio.
Em um universo que não oferece mais nenhuma fresta de descoberta, Pandora segue deslumbrante, mas Fogo e Cinzas confirma a sensação de que esse mundo já deu o que tinha que dar narrativamente. Não há risco, não há expansão verdadeira, apenas novas variações de uma estrutura que não se transforma. Um universo que poderia ter aberto caminhos se reduz a um território explorado até o esgotamento.
A duração excessiva só acentua a dificuldade, e outras situações surgem para trazer questões absurdas, como o caso de Spider. Somando ao filme anterior, onde o garoto tem algum protagonismo, são seis horas e trinta e cinco minutos de duração. E o que sabemos dele? Quem é seu pai, um rascunho do relacionamento deste com a mãe, e algumas tensões espalhadas sem aprofundamento. A verdadeira trajetória do personagem é contada numa série de HQ paralela à franquia cinematográfica. Seis horas e meia de filme e ainda é preciso recorrer a um quadrinho para entender o papel de alguém que o próprio filme insiste em empurrar para o centro dramático. Se isso não é um sintoma claro de desequilíbrio narrativo, nada mais pode ser.
Na verdade, Fogo e Cinzas quer se anunciar como expansão, mas funciona como repetição. É bonito, claro. A tecnologia segue impressionando, as texturas são hipnóticas e a composição da natureza mantém uma potência estética inegável, mas tudo sobre uma base que já não sustenta o peso do projeto. A cada cena, fica evidente que a imagem, por mais complexa e monumental, não substitui o conteúdo. Aqui, o dentro é frágil.
O que pesa no fim é perceber que o universo de Avatar se tornou vítima da própria lógica que denuncia. Há um esgotamento evidente, como se não houvesse mais nada para explorar em Pandora e, ainda assim, a franquia insiste em avançar, repetindo gestos que já não abrem horizonte algum. A colonização, então, vira fórmula barata. É um território desgastado sendo remexido de novo, sem risco, sem descoberta, sem necessidade. Fogo e Cinzas deixa claro que a saga chegou ao limite e que prolongá-la já não faz mais sentido nenhum.
Um grande momento
A festa do clã de Varang


