Em seu discurso na cerimônia de abertura de 2015, a ministra de cultura e mídia da Alemanha, Monika Grütters, que, anos passados, foi minha professora na faculdade, pediu por uma “maior presença de mulheres” na Berlinale. O apelo ecoou rápido e, já no ano seguinte, a presidente do Júri Internacional foi Meryl Streep, a atriz mais premiada de Hollywood.
Com Streep à frente do júri, a Berlinale preenchia sua cota obrigatória de glamour. Sabe-se que, mesmo pela sua história, naquela época, no setor britânico, quando Berlim ainda era uma ilha divida em 4 setores, Alfred Bauer pediu autorização ao chefe do magistrado inglês para criar um festival com a intenção de tirar a cidade do isolamento internacional e polir a imagem da Alemanha, depois da derrota do nazismo de Hitler e da consequente rendição.
Enquanto Cannes e Veneza são plataformas de diretores reconhecidos (provavelmente, Woody Allen jamais teria um filme na competição em Berlim), a Berlinale é, além um festival político, voltada para o público. O domingo seguinte à cerimônia de premiação é “invadido” pelos berlinenses chamado Berlinale Kinotag, dia em que podem ver filmes do festival e, com sorte, a obra que arrebatou o Urso de Ouro, premiação máxima.
O cinema brasileiro sempre teve grande destaque na Berlinale. Em 1998, com Central do Brasil ganhando como melhor filme, foi em Berlim e não em Hollywood, que Fernanda Montenegro angariou seu reconhecimento internacional, ao ser premiada com o Urso de Prata como Melhor Atriz. Em 2008, mais um Urso de Ouro, para o filme Tropa de Elite, de José Padilha.
#MeToo e seus desdobramentos
Em 2017 houve uma avalanche de denúncias de atrizes que declararam terem sido vítimas de assédio, e abuso sexual em manifestação de abuso de poder. As primeiras denúncias tinha foco no super poderoso produtor Harvey Weinstein. Salma Hayek fala do “monstro”. Cate Blanchett, um tanto tardia em sua denúncia, o chama de “predador”. Lupita Nyong’o, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Ashley Judd são algumas de uma lista que chega a 80 mulheres.
Esse debate, essa onda desencadeada pelo movimento #MeToo teve positivos desdobramentos na indústria cinematográfica. As mulheres se tornaram protagonistas de suas próprias histórias, abrindo uma precedência para as novas gerações: de atrizes e também de produtores.
Viva Juliette!
A notícia de que Juliette Binoche será a presidente do júri da Berlinale 2019 casou alvoroço nas redes sociais e regojizo na classe artística. Sem falar que o glamour é certo com madame Binoche no comando. Parece também que todos os esforços focam numa despedida digna e a altura do atual diretor, Dieter Kosslick. Provavelmente, depois do primeiro diretor, Alfred Bauer, ninguém influenciou mais esse evento do que Kosslick. Ele misturou o despojado com o glamour e se tornou a “Marca Berlinale”, com seu cachecol vermelho e seu tênis com design do Festival.
Na coletiva de imprensa, que ocorre dez dias antes do início do festival e tem a imprensa berlinense na plateia, o Mr. Berlinale se tornara a atração principal. Seu humor ácido e seus jogos de palavras eletrizavam, especialmente, os fotógrafos. Dieter Kosslick assumiu em maio de 2001 e seu contrato termina em maio de 2019. Nenhum outro diretor ficou mais tempo no cargo, nos 69 anos daquele que é o maior evento cultural da Alemanha e de visibilidade para o mundo.
A lista do Júri Internacional da Berlinale ainda não foi divulgada, mas tudo indica que a edição 2019 não cumprirá “somente” sua tradição em pautar temas políticos (e nem é preciso ter bola de cristal para saber que o Brasil será assunto frequente) ratificando a premissa de Kosslick: “O cinema nos mostra o que acontece no mundo”.
A Berlinale será um festival de mulheres. Sim! Há todo o motivo para otimismo de que essas mulheres estarão representadas em bem-vinda proporção, à frente ou atrás das câmeras, como protagonistas de suas histórias, influenciando, aos poucos, as próximas gerações de mulheres que já atuam ou pretendem atuar no âmbito da sétima arte.
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