Crítica | Cinema

Boogeyman: Seu Medo é Real

Protocolo de sustos

(The Boogeyman, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Rob Savage
  • Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods, Mark Heyman
  • Elenco: Chris Messina, Sophie Thatcher, Vivien Lyra Blair, David Dastmalchian, Marin Ireland, LisaGay Hamilton, Maddie Nichols, Lacey Dover
  • Duração: 95 minutos

Rob Savage chamou muita atenção durante a pandemia com dois filmes de terror que foram imbatíveis para o tempo que vivemos, Dashcam e principalmente Host: Cuidado com Quem Chama, esse segundo um ‘filme de desktop’, passado em uma live entre amigos durante a quarentena. Os filmes funcionaram tão bem que Savage saiu de seu esquema ultra indie para o lado oposto do jogo, bancado pela 20th Century Studios (pra mim, sempre será Fox), na adaptação de um conto de Stephen King que está fazendo 50 anos. Com isso, estreia essa semana Boogeyman: Seu Medo é Real, onde pouco aqui remete ao que o cineasta fez de maneira independente. O resultado parece conseguido através das ordens dos produtores disponíveis, e qualquer visão autoral passou longe daqui. 

Temos uma produção bem convencional, que está bem confortável em apresentar um resultado datado dentro do cinema de gênero, que vem sendo desafiado por autores como Jordan Peele, Robert Eggers, Ari Aster, e outros. Em Boogeyman: Seu Medo é Real, ficarão felizes os espectadores mais tradicionais, que esperam de um longe de terror a maior quantidade de pulos possíveis da cadeira. Dedicado quase inteiramente a essa moldura envelhecida do material, os dramas de seus personagens que são parte integrante do que prega a literatura de King, no qual suas melhores adaptações não perdem foco, aqui está em segundo plano. Embora a tragédia pessoal do trio protagonista esteja em evidência, a ideia é explorar ao máximo o susto fácil, para contentar um público menos exigente. 

Boogeyman: Seu Medo É Real
Patti Perret/20th Century Studios

É uma ideia muito primitiva de articular tensão, através de uma construção tênue e imediata que não busca a totalidade da narrativa, e sim sua catarse mais histérica. Inexplicavelmente escrito a seis mãos, Boogeyman: Seu Medo é Real é muito simples, e a direção poderia ter tomado para si a responsabilidade de investigar visualmente os espaços que o roteiro não se apropriou. Ao invés disso, Savage se resguarda para obedecer exatamente o que a indústria mais trivial exige de uma produção como essa, entregando apenas emoções triviais. Isso também implica na traição de King, que pautou seus escritos por uma investigação profunda dos habitantes de cada universo que criou, aqui reduzidos a uma família traumatizada e pouco adentrada. 

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Com poucos personagens, Boogeyman: Seu Medo é Real cria uma situação de exploração até interessante, com características que fazem sentido dentro de uma adaptação de King. Uma família enlutada pela morte da mãe trata sua melancolia coletiva de maneiras diversas em particular: o pai afundou no trabalho, literalmente levado para dentro de casa; a filha mais velha se tornou uma figura triste e distante de todos; a filha mais nova é a face mais óbvia do medo, assustada da maneira mais tradicional. Essas linhas gerais, que poderiam ser a base da obra, são basicamente a definição única de cada um deles. Faltou ao roteiro se apropriar dessa situação muito básica e desenvolver cada um em cena para além do arquétipo disponível, e com isso elevar a fita; faltou vontade de entender que um punhado de sustos não constrói um bom terror, ainda que esse tipo de escolha tenha sim seus fãs.

Boogeyman: Seu Medo É Real
Patti Perret/20th Century Studios

É o elenco que transforma o programa em uma diversão viável, porque eles compreendem que faz parte de seu molde a saída para algo acima da média, e digno de atenção. Além disso, são as soluções encontradas para cada um dos atores que acabamos abraçando suas narrativas, que estão chapadas demais no texto para que possamos alcançá-las. O trabalho de Chris Messina, da pequena Vivien Lyra Blair e principalmente de Sophie Thatcher é primordial para que sua família seja não apenas comprada, mas sentida em cada um de seus anseios, mas principalmente no que os aflige, o mote de um filme de terror que não queira cair na vala comum. Se Boogeyman: Seu Medo é Real alcança algum interesse do espectador, isso não advém dos sustos óbvios nem da criatura que já vimos antes, mas do que une seus integrantes e do que os torna críveis, fornecido exclusivamente pelos seus atores.

Um grande momento
Sadie de frente para o horror – que se abre

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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