- Gênero: Ficção
- Direção: Andrew Leeds
- Roteiro: Joanna Leeds
- Elenco: Joanna Leeds, Mary Steenburgen, Kate Burton, Allen Leech, Nat Faxon, Christopher Powell, Karen Huie, Harvey Guillén, Tim Bagley
- Duração: 27 minutos
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A primeira cena já anuncia o caos. Jo, vivida por Joanna Leeds, despeja uma enxurrada de frases desconexas numa tentativa de superar a traição do namorado, só que não falando isso para uma amiga ou para a psicóloga, mas para ele. Se o jogo desconexo demonstra que tudo ganha contornos rocambolescos nas previsões ansiosas dela, o humor nervoso do diálogo deixa claro que o problema é mais profundo e existe muito antes da ruptura amorosa. Bulldozer constrói sua narrativa a partir da instabilidade, fazendo da protagonista um ser em permanente descompasso com o mundo.
O título não é acaso. Bulldozer é retroescavadeira em inglês e Jo, que conhecemos a partir desse momento, segue a vida como uma força destruidora, arrastando pessoas e situações em seu caminho. Não que ela aja por maldade, suas ações são impulsivas, e qualquer gesto de afeto ou tentativa de equilíbrio que venham dela resultam em algo diferente do esperado. Depois de ser internada involuntariamente em uma clínica psiquiátrica, ela tenta recomeçar, mas cada passo desse retorno confirma suas contradições.
Andrew Leeds filma essa espiral com um tom que oscila entre o absurdo e a dor. O riso que vem de muitas cenas não diminui a tragédia pessoal da personagem, apenas deixa mais evidente como o limite entre sanidade e colapso pode ser ridículo. O humor ácido que perpassa a narrativa é corrosivo, desconfortável, como se cada piada revelasse uma verdade ainda mais dolorosa. O espectador sabe que está rindo do colapso de alguém que não encontra lugar no mundo, mas quer provar que esse lugar existe. Essa é a crueldade e também, de certo modo, a coragem de Bulldozer.
Com sua performance, Leeds dá vida a essa mulher que nunca se encaixa, e que se perde em falas aceleradas, gestos imprecisos e olhares que vão da ternura ao desespero em segundos. Há um mosaico de encontros que apenas reforçam o abismo da protagonista com o mundo. As interações com sua mãe Kathy (Mary Steenburgen, ótima), Steve (Nat Faxon), Greg (Allen Leech) e Angel (Harvey Guillén) são a prova da desconexão. Todos tentam acolher, explicar ou corrigir Jo, mas o resultado é sempre o contrário, deixando um rastro de micro e macro traumas. É nesse contraste que o curta encontra sua força, sempre interessado em provocar o incômodo.
Bulldozer é como um retrato sem filtros da fragilidade. Uma obra que encontra sua imagem mais precisa no fato de que Jo não constrói nada, apenas escava e passa por cima, deixando destroços onde deveria haver recomeços. É um filme que prefere deixar o espectador no desconforto de acompanhar uma vida que se desfaz na frente de todo mundo, em 27 minutos.
Um grande momento
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