Crítica | Streaming e VoD

Caçada Selvagem

Na companhia de lobos

(Daughter of the Wolf, CAN, 2019)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: David Hackl
  • Roteiro: Nika Agiashvili
  • Elenco: Gina Carano, Richard Dreyfuss, Anton Gillis-Adelman, Brendan Fehr, Sydelle Noel, Stew McLean, Brock Morgan, Joshua Murdoch, Chad Riley
  • Duração: 88 minutos

Atual hit da Netflix, Caçada Selvagem não é uma produção original do canal, mas um desses lançamentos de algum tempo atrás que são finalmente disponibilizados no streaming, que entopem o algoritmo deles e não costumam fazer muita diferença qualitativa. A produção aqui, pra lá de descartável, não consegue esconder suas outras características, tanto quanto a falta de cuidado na escala da produção. Mas isso não será um problema muito evidente a um espectador que não tem sua guarda levantada; o filme está dentro de um padrão de ação no que concerne ao alcance modesto de sua narrativa. Por baixo dessa falta de ambição estética, resta pouca coisa a ser apreciada no título; resume-se tudo a um escapismo barato, passatempo deslocado de quaisquer sinais positivos. 

Na conta do diretor David Hackl, não tem muito crédito mesmo. Sua estreia na cadeira foi em Jogos Mortais V, um daqueles exemplares da série entre o esquecível e o desprezível, e o mais recente Instinto Assassino. Esse é o título exatamente anterior, e demonstra como o cineasta deveria ter continuado no design de produção. A essa altura da discussão, todos já sabem daquela máxima, “todos os filmes já foram feitos”, e já foram mesmo. O que vai diferenciar as experiências futuras não é mais o que será contado, mas a forma como será. De acordo com a subjetividade de cada cineasta, veremos universos inteiros e novos sendo descortinados na nossa frente. Ou, como no caso de Hackl, esses universos podem ser como imensos buracos negros de criatividade. 

Em 1 minuto (literalmente) de duração, uma trilha sonora das mais bregas arranha o ouvido do espectador e já sentimos que o caminho para chegar ao fim será árduo. Imaginem o tema da partida de Bruce Banner do seriado O Incrível Hulk dos anos 80, e desçam ao poço mais alguns andares, já que o pianinho que tocava para a despedida de Banner parecerá composto por Mozart ao lado do que surge aqui. Logo em seguida, percebemos que o filme fará uso contínuo da câmera lenta, de lutas mal coreografadas, e de um estado de tensão narrativo que nunca se instaura, porque toda a edição é tão mal feita, que não conseguimos nos envolver com a construção narrativa – se é que há uma. 

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E coreografia ruim em um filme protagonizado por Gina Carano, campeã de MMA transformada em atriz no ótimo filme de Steven Soderbergh, À Toda Prova. Desde então, a atriz tem se dedicado ao cinema, e aqui precisa transmitir credibilidade em cenas muito pouco críveis no que diz respeito à ação empregada, que nem em telecatch parecia tão cartunesca. Igualmente as cenas que não incluem luta são descoordenadas e falsas, sempre dando a impressão de que em cena estamos assistindo a um show circense, e nem exatamente um dos bons. A perseguição de carro do início é tão precária que todos aqueles típicos exageros desse tipo de cena (armas que precisam ser recarregadas com uma só mão, etc) soam como um alívio diante do que vemos.  

Mas nada nos preparou realmente para ver o estado atual da carreira de Richard Dreyfuss. Vencedor de um contestado, porém muito merecido Oscar de melhor ator há mais de 40 anos, por A Garota do Adeus, Dreyfuss teve três décadas de muito sucesso, em uma parceria com Steven Spielberg que deu muito certo. Porém há mais de dez anos que nada de relevante aparece em seu currículo, e ele tem vivido de produções dessa categoria, onde precisa aceitar um papel vilanesco que ele não consegue destituir de canastrice graças a um roteiro que não oferece nada a um ator como ele. O que fazer então, se não brincar e mergulhar com força nessa montanha de neve, né… aos poucos, percebemos que Dreyfuss está relaxado e se divertindo, ainda que não mereça estar aqui. 

A imagem que fica quando Caçada Selvagem termina é um flashback horroroso, onde os planos são embaçados, um efeito de quinta categoria que granula a imagem e somos apresentados ao personagem que está sequestrado. O jovem Anton Gillis-Adelman é tão inexpressivo, essas sequências são tão desoladoras da falta de talento coletivo, que resta a quem ainda estiver assistindo rezar para todo o mal acabar logo. E isso acontece no início do filme, ainda vem muito mais tragédia pela frente. 

Um grande momento
Duas mulheres na beira do abismo 

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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