Crítica | Outras metragens

Call Back

O que se espera

(Call Back, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Blaise Beyhan
  • Roteiro: Blaise Beyhan
  • Elenco: Levon Hawke, Paul Fitzgerald
  • Duração: 15 minutos

Danny é ator. Nepo baby, espera desesperadamente por uma chance de aparecer, se tornar conhecido e mostrar o seu talento para o mundo. Parece que agora tem uma chance. Será? A ligação do agente avisa que o papel principal de um desses grandes blockbusters do momento está disponível depois do cancelamento do protagonista. O filme: Gárgula 2. Enquanto se prepara e espera sua vez na antessala, ele tem um encontro inesperado com ninguém mais ninguém menos do que o personagem.

Não é a primeira vez que vemos uma interação exatamente como essa no cinema, mas o confinamento e o desenrolar da inusitada conversa fazem de Call Back um exemplar diferente. A não ser pelo forçado e prolongado começo, o curta dirigido por Blaise Beyhan se desenvolve basicamente em um único espaço e tem como ponto principal o texto afiado e o modo como ele é interpretado. Enquanto os signos do novíssimo cinema plástico descartável são reconhecidos na postura e entonação, o conflito e contradição que contaminam o mercado audiovisual atualmente ficam expostos nos duelos argumentativos entre o ator e o personagem mascarado.

– Não é um filme. É um passeio num parque temático.

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Aquilo que se ouve é sabido e conhecido, e, é óbvio que há muita coisa que pode parecer básica, mas como é bom ouvir mais uma vez. O cinema como arte e como mercado, a busca pela fama, o entretenimento e o lucro, o sentido de atuar são debatidos naquelas cadeias de ferro antes de o nome de Danny ser chamado. Beyhan sabe como usar o humor para fazer com que tudo se encaixe no roteiro, além de dar mais peso (e paixão) às palavras, já que é ele mesmo que as põe para fora em cena. E é inegável que a dinâmica estabelecida entre aquelas duas figuras improváveis deve muito à química entre o diretor-ator e Levon Hawke, como o atordoado e desde o começo reticente Danny.

Depois que se chega à sala de espera, há ótimos momentos entre os dois, com deboches, impaciência e reticências, o que é fundamental para a cadência de Call Back. E não precisa muito para se divertir com o filme e a repetição dessa aparição, ainda que em nova forma e com novo nome. Já registrada, ela é o mínimo que se espera da maioria das pessoas que vão encarar papéis como esse. Talvez seja esperar demais, mas poderia ser pelo menos um pouquinho o pensamento de mais umas 200 pessoas envolvidas nessas produções e até daquelas que estão no final da cadeia também. 

E, para não esquecer, vale deixar registrado que, em um universo dominado pelo CGI – e falando dele –, ver tudo isso numa forma tão simples, sem nenhum exagero ou tentativa colorida mirabolante de simular plano-sequência, deixa tudo mais divertido.

Um grande momento
Desalinator

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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